Se estadista fosse, Lula ignoraria as provocações de Milei e iria à posse ou mandaria o vice

By | 09/12/2023 5:34 am

O fígado como conselheiro

Imagem ex-librisO presidente Lula da Silva desperdiçou a oportunidade de se alçar à condição de estadista ao declinar do convite para assistir à posse do novo presidente argentino, Javier Milei.

É certo que o sr. Milei fez provocações indignas do cargo que vai ocupar, ao convidar para a posse o antípoda de Lula, Jair Bolsonaro, que pegou o espírito da coisa e viajará a Buenos Aires com uma comitiva típica de chefe de Estado. Compreende-se, portanto, que Lula não queira dividir o mesmo ar que Bolsonaro, ainda mais num evento em que este, malgrado não ocupar mais cargo público e ter se tornado inelegível, certamente terá de Milei mais atenção que o presidente brasileiro.

Mas é justamente em situações como essa que se conhecem os verdadeiros estadistas. Se com tudo isso Lula fosse à posse, demonstraria claramente que o cargo que ocupa está a salvo de entreveros pessoais. Lula, ainda que de cara fechada, cumpriria o papel de representante do Brasil, para o qual, aliás, foi eleito, e deixaria claro que as boas relações com a Argentina independem de eventuais picuinhas entre aqueles que governam os dois países.

Sendo realmente impossível para Lula prestigiar Milei depois das afrontas do argentino (que, é sempre bom lembrar, ocorrem continuamente desde a campanha eleitoral), seria então de bom-tom que o presidente se fizesse representar pelo vice, Geraldo Alckmin, que para todos os efeitos está ali para isso mesmo. Mas não: deixando-se levar pelos conselhos do fígado, Lula decidiu mandar à posse de Milei seu chanceler, Mauro Vieira, que certamente é um respeitável ministro, mas claramente só está ali para cumprir tabela.

Diferenças ideológicas entre Brasil e Argentina já foram sabiamente sublimadas no passado, a bem de uma boa relação. Em 2015, por exemplo, a então presidente Dilma Rousseff ignorou essas diferenças e foi à posse do liberal Mauricio Macri – evento que ficou marcado pela deselegância da presidente Cristina Kirchner, aliada dos governos petistas, de se negar a passar a faixa ao sucessor.

Nesse sentido, Lula e Bolsonaro padecem do mesmo mal: consideram que as relações entre Brasil e Argentina dependem de afinidades ideológicas. Bolsonaro, recorde-se, recusou-se a comparecer à cerimônia de posse do peronista Alberto Fernández, em 2019, mandando em seu lugar o vice, Hamilton Mourão. Mas do truculento Bolsonaro não se esperava nada diferente disso; já de Lula, que venceu a eleição prometendo fazer diferente de Bolsonaro, isto é, restabelecer o respeito pelas instituições e pela democracia e restaurar a civilidade diplomática, se esperava um gesto de grandeza.

E política, como Lula sabe bem, é feita de gestos. Um aperto de mãos entre Lula e Milei, consideradas todas as circunstâncias da posse, seria uma mensagem clara de que o Brasil se importa com a Argentina e que tudo fará para desarmar os espíritos. Com Lula vendo a posse pela TV, a mensagem é outra: não é a Argentina que importa, e sim os “companheiros” peronistas que foram derrotados por Milei e sua serra elétrica.

Comentário nosso

  • Concordo plenamente. (LGLM)

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Category: Destaques

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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