A calamidade da geração nem-nem

By | 10/12/2023 4:50 pm
Imagem ex-librisA estratificação dos dados do IBGE sobre a chamada “geração nem-nem”, jovens entre 15 e 29 anos que não estudam nem trabalham, confirmou o que já se esperava: quanto mais pobre o segmento, maior é a parcela de jovens nesta condição, fato agravado quando incluídos os critérios de cor/raça e gênero. Os nem-nem são, ao todo, 10,9 milhões de brasileiros (22,3% da população dessa faixa etária), sendo 6,7 milhões deles pobres e, destes, quase metade (48%) mulheres pretas e pardas. A cada fracionamento, mais nítido se torna o triste retrato da desigualdade brasileira.

Triste e inquietante – afinal, adolescentes e jovens adultos deveriam ter garantido o direito à formação intelectual, técnica e profissional. Pela fragmentação dos dados estatísticos, é possível inferir que, para a grande maioria dessa população, fazer parte da classificação “nem-nem” não é uma escolha, ao contrário do que provavelmente acontece entre os “nem-nem” que pertencem à fatia dos 10% mais ricos. Nesse topo da pirâmide, 7,1% dos adolescentes e jovens estavam fora dos bancos escolares e do mercado de trabalho em 2022, índice que cai ano a ano – em 2012 eram 8,4%.

Já para os 10% mais pobres, o porcentual se aproxima velozmente da marca de 50%. Eram 41,9% em 2012 e, dez anos depois, chegaram a 49,3%. Principalmente para as jovens mais pobres, grande parte delas mães adolescentes, o caminho mais adotado tem sido o da porta da escola para fora, em direção aos cuidados da casa, dos filhos e dos pais, como constatou o IBGE na Síntese dos Indicadores Sociais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

O Brasil caminha para três décadas de levantamento sistemático de dados da população “nem-nem”. O caso brasileiro não é isolado. O termo, por exemplo, surgiu na década de 1990 na Inglaterra, sob a sigla NEET´s (not in employment, education, or training – sem emprego, educação ou treinamento, em tradução livre). O problema é que, por aqui, as estatísticas permanecem em patamar perigosamente alto, sem um sinal claro de reversão.

Embora o resultado de 2022 tenha sido o terceiro menor da série (em 2012, o melhor resultado foi de 21,8% e em 2013, de 22%) a proporção ainda é altíssima. É inaceitável verificar que um em cada cinco jovens não estuda nem trabalha. Assim como não há justificativa plausível para o fato de o Brasil não ter constatado qualquer avanço na meta de universalização da educação infantil entre 2019 e 2022.

Os caminhos para reverter essa triste realidade não são desconhecidos, e o fortalecimento do ensino técnico é certamente um deles. O Ministério da Educação diz que essa é uma prioridade. Pois então que acelere essa marcha. Não há desculpa para protelações. Capacitar os jovens não é favor do poder público. Disso depende não apenas o futuro de cada um deles, mas o aumento da produtividade de um país que há muitos anos também é “nem-nem”: nem cresce nem se desenvolve.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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