Reforma tributária, um feito histórico

By | 17/12/2023 5:35 pm
Imagem ex-librisO País conseguiu vencer os obstáculos que travavam a reforma tributária nesta semana. Foram mais de 35 anos até que o Legislativo desse aval a uma proposta que havia se tornado um folclore no noticiário nacional, um feito e tanto e uma vitória a ser muito celebrada por toda a sociedade.

O texto havia recebido apoio da maioria da Câmara em julho, na primeira etapa de tramitação. Em novembro, os senadores deram 53 votos a favor e 24 contra, mas modificaram trechos da reforma e devolveram a proposta para uma última apreciação dos deputados.

Foram necessários mais de 30 dias até que se chegasse a um acordo sobre o texto final. E numa sexta-feira, dia de votações tradicionalmente esvaziadas no Legislativo, os deputados aprovaram o texto por 371 votos a favor e 121 contra no primeiro turno de votação e por 365 a 118 no segundo.

A ampla margem de apoio a uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) pode dar a falsa impressão de que o texto era consensual. Mas o que unia a todos era o reconhecimento da necessidade de abandonar um modelo que deu ao País o título de pior sistema tributário do mundo: arcaico, confuso, cumulativo, regressivo e absolutamente injusto.

A despeito dessa convicção, todas as tentativas anteriores de reformar o sistema tributário acabaram frustradas. Esbarrou-se, ao longo desse longo caminho, na resistência dos Estados produtores, de setores privilegiados e da própria União em dar sua contribuição para encerrar o manicômio tributário. Há que reconhecer, portanto, os acertos que levaram a esse verdadeiro feito histórico.

Em vez de buscar protagonismo próprio, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, acertadamente escolheu apoiar uma proposta que já tramitava no Congresso desde 2019. Nomeou como secretário extraordinário da reforma tributária na pasta o economista Bernard Appy, que dedicou muitos anos de sua vida ao estudo do tema.

Não teria sido possível avançar sem o apoio dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Na Câmara, o texto voltou à relatoria de Aguinaldo Ribeiro (PP-AL), que já estava familiarizado com a PEC desde o início. No Senado, a escolha do senador Eduardo Braga (MDB-AM) para a relatoria foi essencial, dado que a reforma não avançaria sem garantia de apoio à Zona Franca de Manaus.

Acolher as sugestões dos senadores, que defendiam um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) dual em vez de um IVA único da proposta da Câmara, e manter o Simples Nacional também foram gestos políticos corretos rumo à reforma possível. A reforma ideal, como se sabe, jamais seria aprovada.

Os críticos da proposta certamente apontarão todos os tratamentos especiais que a reforma manteve ou criou. Mas até nisso o texto final saiu melhor que o esperado, ao excluir os setores de saneamento, rodovias, telecomunicações, transporte aéreo e micro e minigeração de energia do rol dos que terão direito a regimes específicos. Muitas das desconfianças em relação à alíquota final do novo IVA foram dirimidas com essas mudanças corajosas que os deputados assumiram na reta final da votação.

A despeito de todas as exceções que permaneceram, haverá um número muito menor de alíquotas, o que é um ganho e tanto em termos de transparência e conformidade. O sistema de devolução de crédito pleno será revolucionário para a produtividade e a eficiência de uma economia que se acostumou a pagar tributo sobre tributo.

O governo ainda enviará os projetos de leis complementares para regulamentar a reforma. Eles precisarão ser acompanhados com atenção para não deturpá-la, em especial a cesta básica nacional. No médio e longo prazos, a União terá de encontrar receitas para abastecer os quatro fundos para compensar os Estados pelas mudanças, mas o fim da guerra fiscal é um ganho que não pode ser menosprezado.

A mudança de paradigma trazida pela reforma, comparável ao Plano Real e ao controle da inflação, ainda levará tempo para ser compreendida, mas tem tudo para conduzir a uma nova etapa de desenvolvimento e crescimento econômico, como a sociedade anseia e merece há muito tempo.

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Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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