Mais um Orçamento sem condições de funcionar bem (com comentário nosso)

By | 23/12/2023 6:40 am

Quando desempenha seu papel com responsabilidade, o Congresso supera expectativas, como se viu na histórica aprovação da reforma tributária. Ocorre o oposto com as emendas

O Congresso aprovou, no último dia de trabalhos legislativos, o Orçamento de 2024. Como já se tornou uma tradição, a proposta que definirá os gastos da União durante o ano todo não foi discutida com o tempo e a profundidade que merecia. O debate público foi dominado por dois assuntos: as emendas parlamentares e o fundo eleitoral.

Para garantir os recursos que consideram necessários para atender a essas demandas, deputados e senadores reduziram em R$ 7 bilhões a verba para obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e os valores reservados para gastos discricionários de vários ministérios, inclusive as pastas de Saúde e Educação. Não foi uma surpresa, mesmo porque boa parte dessa discussão já havia ocorrido na tramitação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

À primeira vista, o Legislativo sai ainda mais fortalecido desse embate. Sem qualquer dificuldade, os parlamentares conseguiram impor sua vontade ao governo. Serão, ao todo, R$ 53 bilhões divididos em emendas individuais, de bancada e de comissão, um valor recorde. Em contrapartida, o governo ainda tem muita dificuldade para aprovar suas propostas no Congresso, embora tenha distribuído cargos e liberado recursos para conquistar novos aliados.

Para deputados e senadores defensores desse modelo, o Orçamento tem direcionado recursos para áreas normalmente esquecidas pelo governo. Se isso fosse verdade, esse modelo deveria resultar na redução das desigualdades sociais e regionais e em um crescimento econômico mais inclusivo. Mas as emendas parlamentares fragmentaram as políticas públicas do Executivo em obras de pequeno porte que só favorecem lideranças políticas já constituídas.

O debate sobre o fundo eleitoral é ainda mais anacrônico. O Congresso aprovou R$ 4,9 bilhões para as eleições municipais, mesmo valor que custeou a campanha para eleição presidencial, dos governadores, deputados federais, senadores e deputados estaduais no ano passado, bem mais que os R$ 939 milhões que o governo havia proposto. Nem mesmo o apelo do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para atualizar os valores originais apenas pela inflação foi considerado.

Como já dissemos muitas vezes neste espaço, esse modelo se encaminha para um esgotamento. Da forma como o Orçamento tem sido elaborado e discutido, não há qualquer margem para avaliar a manutenção ou a renovação de políticas públicas na saúde, na educação e na segurança pública. Despesas obrigatórias consomem quase 95% dos recursos públicos. O domínio sobre os nacos restantes tem gerado uma disputa ferrenha entre o Executivo e o Legislativo, com resultados bastante questionáveis em termos de entrega à população.

Mais do que o desequilíbrio entre o Legislativo e o Executivo, o Orçamento reflete a disfuncionalidade dos poderes constituídos. Não cabe aos parlamentares avançar sobre o Orçamento a ponto de controlar até mesmo sua execução. Não satisfeitos em tornar obrigatórias as emendas individuais e de bancada, os parlamentares impuseram até mesmo um calendário para o governo empenhá-las. Segundo a LDO, o Executivo terá de reservar valores para pagá-las até julho.

Quando assume suas prerrogativas com responsabilidade, o Congresso supera expectativas. Foi o que se viu na recente e histórica aprovação da reforma tributária. Com muito diálogo, os parlamentares foram capazes de construir um consenso que parecia impossível e de abandonar um sistema tributário arcaico, confuso, regressivo e injusto. É essa, precisamente, a função do Legislativo.

Passou da hora de o Executivo reassumir o protagonismo sobre o Orçamento, mas esse movimento precisa ser feito de forma bastante realista. Será preciso que o governo aceite algumas das contribuições dos deputados e senadores na peça orçamentária, bem como reavalie, com certa dose de autocrítica, a qualidade de suas próprias políticas públicas – de modo a convencer os parlamentares a bancá-las.

Comentário nosso

Infelizmente, indiretamente, estamos sendo governado pelo Congresso Naciconal. Seria normal num regime parlamentarista. Se por acaso tivéssemos parlamentares que, realmente, representassem os nossos interesses. Mas, irresponsavelmente, elegemos deputados e senadores que só pensam nos seus interesses e, por isso são capazes de tudo. Na maioria deles verdadeiros bandidos a roubar a nossa paciência, esquecendo que somos nós que pagamos impostos e somos nós que sustentamos o país. Mas infelizmente somos culpados por isso ao eleger a qualidade de representantes que elegemos. E a cada eleição fazemos papel de “bestas” elegendo inimigos nossos, muitas vezes em troca de um par de sandálias havaianas, ou seja, por qualquer ninharia. Vivemos mal, por que queremos. E jamais teremos um país decente enquanto continuarmos a votar mal. (LGLM)

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Category: Destaques

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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