Fundo Eleitoral de R$ 4,9 bilhões é, mais um vez, um tapa na cara do brasileiro

By | 24/12/2023 8:13 am

(Opinião do Blog Conversa Política, no Jornal da Paraíba, em 22/12/2023)

 

Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

O Congresso Nacional aprovou o projeto da Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2024 (PLN 29/23), que prevê despesas de R$ 5,5 trilhões.

Maior parte para pagar dívidas, uma outra fatia para gastos com a máquina e um pedaço menor para investimentos, que, agora, está dividido entre o Executivo e os parlamentares, com direito a uma fortuna em emendas.

Detalhe: o Orçamento aprovado tem menos dinheiro para o PAC, Fies e Farmácia Popular, mas, muito mais dinheiro para bancar a eleição do ano que vem.

É que foi rejeitado o destaque do partido Novo que buscava reduzir o Fundo Eleitoral de R$ 4,9 bilhões para R$ 900 milhões, valor previsto pelo governo no Orçamento.

Da Paraíba, somente os deputados Cabo Gilberto (PL) e Ruy Carneiro (Podemos) votaram a favor de analisar o destaque para diminuir o fundo eleitoral. Todos os outros, de esquerda, direita ou centro queriam o fundão turbinado. Veja como votaram, abaixo:

OPINIÃO: fundo eleitoral de R$ 4,9 bilhões é, mais um vez, um tapa na cara do brasileiro

O valor, que é igual ao da eleição geral do ano passado, é um tapa na cara do brasileiro. Ou pode-se entender como um chute no traseiro; talvez um “perdeu otários”.

É, mais uma vez, a prova de que boa parte dos políticos brasileiros não tem vergonha de legislar em causa própria, quando em jogo está a manutenção do poder próprio e de seus pares, apadrinhados, familiares, que estarão na eleição do ano que vem.

Nem estão preocupados em tirar dinheiro de onde for para a permanência dos eternos privilégios trazidos pela política.

A questão não é não usar dinheiro público para financiar a democracia. É importante e defensável. Mas o problema é “arrancar” dos cofres públicos um valor absurdo, sem parâmetros, sem regras, sem medida, ponderação ou pena.

Não tem lógica. As campanhas são muito caras e pagas com o sacrifício do cidadão que é, muitas vezes, extorquido por um sistema tributário injusto.

Pacheco

Hoje, em café da manhã com jornalistas, presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou que cálculo ‘não tem critério’ e defendeu valor menor.

Disse discordar “totalmente”. Segundo Pacheco, a medida é um “erro grave” do Congresso. Um voz poderosa e sensata que ninguém quis ouvir porque não era de interesse.

Acho que ele [o valor] não tem critério. Ele [o relator] pegou parâmetros de uma eleição geral em 2022. O fundo eleitoral com base em 2022 para as eleições municipais é um erro grave do Congresso. As pessoas não compreenderão. Porque em 2020, numa mesma eleição municipal, foi R$ 2 bi?”, disse.

A proposta de Pacheco era usar o mesmo valor reservado nas eleições municipais de 2020, de R$ 2 bilhões, corrigido pela inflação no período. Não passou.

Caciques 

Para piorar, de maneira geral, o dinheiro fica na mão dos caciques, donos dos partidos, que na eleição escolhem para onde o dinheiro vai, sem critérios objetivos, sem regras definidas.

Vão para os mais próximos, para os membros que podem fortalecer o projeto de poder. Em geral, os recursos não chegam como deveriam nas campanhas de mulheres, negros, indígenas, que fortaleceriam a diversidade na política brasileira.

Mas ainda pode piorar. A prestação de contas nem sempre é clara, nem sempre os partidos são punidos, as regras e resoluções não garantem que o uso difuso do dinheiro público irá gerar uma sanção severa para ninguém.

Enfim, dinheiro público fácil, para fazer praticamente o que quiser, para dar a quem quiser, com uma fiscalização falha. Tudo que a política precisa, principalmente numa eleição.

Ah, depois corre o risco de aparecer um projeto no Congresso para anistiar todas as anomalias eleitorais. “Eita” país difícil.

Comentário

Category: Últimas

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *