O custo da criminalidade

By | 03/01/2024 7:06 am

Não é por acaso que as populações latino-americanas são as mais desiguais e delinquentes do mundo. Os crimes levam à degradação econômica, que, por sua vez, incentiva mais crimes

 

Imagem ex-librisO combate ao crime é, antes de tudo, uma questão de defesa de direitos fundamentais, a começar pelo direito à vida. Mas é também uma questão econômica. Há um círculo vicioso entre crime e pobreza. A degradação econômica incentiva o crime, e o crime deteriora a atividade econômica. Não por coincidência a América Latina é a região mais desigual e a mais homicida do mundo. Conforme o índice Gini de desigualdade, a região está 15% acima da segunda região mais desigual, a África Subsaariana, e 50% acima das regiões mais igualitárias, como a Europa. Com 8% da população do planeta, a América Latina responde por 40% de seus homicídios.

As relações de causa e efeito entre a redução do crime e o crescimento econômico, e vice-versa, são fáceis de inferir, mas difíceis de mensurar. Os custos diretos da violência incluem perdas de produção (de bens e serviços) e de recursos (a produtividade das vítimas e dos criminosos), além dos gastos com segurança que poderiam ser investidos em atividades produtivas. Segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o crime custa 3,6% do PIB dos países latino-americanos, duas vezes mais que nos países desenvolvidos e o equivalente aos gastos da região com infraestrutura e à renda dos 30% mais pobres. Fora os custos indiretos, como menos oportunidades de emprego, mais emigração, erosão das instituições, corrupção, e as consequentes perdas de investimentos. Tudo isso empobrece a população e estimula mais violência, perpetuando o já mencionado círculo vicioso.

O FMI estima que na América Latina um aumento de 30% nos homicídios reduz o crescimento em 0,14 ponto porcentual. Inversamente, se o crime fosse reduzido à média mundial, o crescimento anual aumentaria 0,5 ponto porcentual, cerca de um terço do crescimento atual.

Um dos motivos pelos quais o crime é tão prevalente na América Latina é porque ele compensa. Os ganhos são altos em relação à economia legal, e a chance de os criminosos serem pegos é pequena. Menos de 10% dos homicídios na região são solucionados. O contingente de jovens que não estuda nem trabalha é alto, o que pede mais programas de formação. O sistema de Justiça frequente falha em suas tarefas, o que pede mais capacitação da polícia e melhorias no sistema judiciário e prisional. A expansão do crime organizado agrava estes fatores. Países outrora seguros, como Equador, Chile ou Costa Rica, sofreram uma escalada da violência após se tornarem entrepostos do narcotráfico.

Mas a região também tem alguns dos países que reprimiram mais eficazmente a violência. Os homicídios são extraordinariamente concentrados: cerca de 80% das mortes violentas na América Latina ocorrem em 2% de suas ruas. Estatísticas podem ajudar a polícia a realizar prisões e prevenir crimes. Nos anos 90, a Colômbia era um dos países mais violentos da região. A prefeitura de Cali estabeleceu “observatórios da violência” para estudar como localidades e comportamentos favorecem assassinatos. Muitos resultam de rixas entre indivíduos embriagados. Restrições ao álcool e armas ajudaram a cortar os homicídios em 35%. Cidades como Medellín utilizaram esse policiamento baseado em evidências para reprimir cartéis de drogas. A Justiça puniu mais criminosos, os cidadãos sentiram que as ruas estavam mais seguras e as ruas mais povoadas desencorajaram os criminosos. Entre 1995 e 2017, a taxa de homicídios da Colômbia caiu de 70 por 100 mil habitantes para 24, a menor em 40 anos.

Uma das razões da violência exorbitante na América Latina é que a região se urbanizou uma geração antes de outras áreas em desenvolvimento. Agora a violência cresce nessas regiões também. Assim como a América Latina liderou a alta de homicídios no mundo, pode liderar a sua baixa. O fortalecimento do Estado de Direito beneficiará, a um tempo, o combate ao crime e o crescimento econômico. Com segurança pública baseada em evidências, os latino-americanos podem antecipar para outros países os antídotos e remédios para a doença do crime, evitar indizíveis tragédias de suas vítimas e enriquecer toda a sua população.

Comentário

Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *