A vacina desafia o negacionismo

By | 04/01/2024 9:20 am
Imagem ex-librisOs anos críticos da pandemia de covid-19 deixaram no Brasil a triste marca dos 700 mil mortos pela doença e a trágica cultura do negacionismo – aquela impulsionada por uma legião que não só se recusava a seguir as recomendações da ciência, como difundia desinformação e inverdades sobre supostos riscos e inutilidade das vacinas. Pelos números revelados recentemente pelo Ministério da Saúde, o País pode estar, enfim, revertendo a tendência negacionista que se proliferou nos últimos anos e abalou os indicadores de vacinação.

Segundo o governo, oito tipos de vacinas recomendadas no calendário infantil apresentaram aumento de procura entre janeiro e outubro de 2023, comparado com o mesmo período de 2022. Registraram crescimento os imunizantes contra hepatite A, poliomielite, pneumocócica, meningocócica, DTP (difteria, tétano e coqueluche) e tríplice viral 1.ª dose e 2.ª dose (sarampo, caxumba e rubéola). Também houve aumento na cobertura da vacina contra a febre amarela. Em todas elas, a alta ocorreu em todo o Brasil.

Ainda que os dados sejam preliminares, trata-se de uma notícia auspiciosa. Ao apresentá-los, a ministra Nísia Trindade evidentemente comemorou os resultados. Convém reconhecer-lhe os méritos, tanto dela quanto do presidente Lula da Silva: depois de anos de quedas sucessivas na cobertura vacinal, o Ministério da Saúde lançou o Movimento Nacional pela Vacinação, no qual se incluiu a adoção do microplanejamento, o repasse de recursos para ações regionais nos Estados e municípios, e o programa Saúde com Ciência, iniciativa interministerial voltada para a promoção e valorização da ciência nas políticas públicas de saúde. O governo buscou ainda revigorar neste primeiro ano o Programa Nacional de Imunizações, abalado pela gestão anterior.

Nada mal quando boa parte do País ainda se recorda do rosário de queixas, ironias e negações do então presidente Jair Bolsonaro diante das vacinas. Ao longo de quase dois anos de pandemia, Bolsonaro se posicionou diversas vezes sobre o tema e se mostrou claramente contrário à imunização. Numa delas, em janeiro de 2022, chegou a dizer que as mortes de crianças pela covid-19 no Brasil não justificavam a vacinação, por causa de seus “efeitos colaterais adversos”. Em outra, afirmou que o efeito da vacina no público infantil seria uma “incógnita”. Não raro optou pelo deboche diante do medo, das incertezas e até mesmo da busca acelerada pela vacina. “Se você virar um jacaré, problema de você. Se você virar super-homem, se nascer barba em alguma mulher ou algum homem começar a falar fino, eles (os fabricantes de vacinas) não vão ter nada a ver com isso”, disse ele, em dezembro de 2020, num dos momentos críticos.

O avanço é notável, mas a própria ministra da Saúde reconheceu que ainda há um longo caminho a percorrer. Mesmo com o aumento, as coberturas vacinais não alcançam, em nível nacional, a meta preconizada pelo governo, de 95%. Alguns imunizantes chegam próximo a 80%; outros ainda se aproximam da casa dos 70%. Mas sair da espiral descendente já é motivo para alívio, sobretudo para um país que, até Bolsonaro, foi referência internacional no controle de doenças imunopreveníveis. Afinal, é do Brasil um dos maiores programas de vacinação do mundo, instituído na década de 1970, reconhecido pela Organização Mundial da Saúde e razão da vitória contra algumas doenças, incluindo a poliomielite.

Os novos dados são igualmente importantes porque 2023 mostrou que, embora tenha mudado de patamar, a covid-19 veio para ficar. Já não se trata de uma emergência de saúde pública, mas o vírus continua circulando, causando mortes, alterando a circulação de outros vírus respiratórios e provocando surtos fora de época. Uma suposta normalidade na convivência com a doença e o espírito negacionista ainda deixam sequelas: em junho do ano passado, somente 13% dos adultos haviam recebido o reforço com a vacina bivalente; em dezembro, somente 17%, índice que é ainda mais baixo entre crianças de até cinco anos de idade. Um tema, portanto, que ainda desafia governos e famílias.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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