O indecoroso fundão eleitoral

By | 09/01/2024 7:30 am
Imagem ex-librisO Congresso Nacional aprovou uma verba de R$ 4,9 bilhões para bancar as despesas das campanhas para as eleições municipais deste ano. O valor ficou muito maior que o sugerido pelo governo no Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa), de R$ 939 milhões, mas não se viu movimentação da base aliada para barrar esse aumento descabido, pelo contrário.

Em defesa do fundo, lideranças do Legislativo têm um discurso pronto. Seria, segundo a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), o “custo da democracia” e uma forma de garantir a renovação da política. A maioria dos parlamentares não teve qualquer pudor em destinar tanto dinheiro para esse fim, à exceção do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que tentou, sem sucesso, chamar os parlamentares à razão.

Para Pacheco, seria plenamente possível financiar a campanha municipal tomando como base o valor reservado em 2020, bastando, para isso, atualizá-lo pela inflação acumulada nos últimos anos. A proposta foi fragorosamente derrotada na Câmara, por 355 votos a 101, o que dispensou sua apreciação por parte dos senadores.

Em defesa da redução do tamanho do fundo para níveis mais civilizados, Pacheco chamou a atenção para uma questão bastante relevante. Para o presidente do Senado, o valor aprovado, além de um erro grave, precipitaria discussões sobre o retorno do financiamento privado de campanhas. “E precipita inclusive uma reflexão sobre as eleições no País, o custo delas para o Brasil em todos os sentidos”, afirmou.

A preocupação do senador tem todo o sentido, uma vez que a decisão do STF que declarou a inconstitucionalidade das contribuições de empresas se deu em 2015, no contexto das investigações da Lava Jato. Desde então, o reconhecimento dos erros da operação já gerou a anulação de delações, provas e condenações.

Mais recentemente, o ministro Dias Toffoli suspendeu uma multa bilionária da J&F, aplicada em razão de um acordo de leniência celebrado com o Ministério Público Federal (MPF). Não seria nenhuma surpresa, portanto, que o valor indecoroso que o fundão atingiu e o desequilíbrio estrutural do Orçamento encorajassem discussões sobre a retomada das doações empresariais.

Seria um enorme e indesejável retrocesso, que a sociedade não pode aceitar. Como já defendemos neste espaço, as doações de empresas promovem a captura do processo político pelo poder econômico. São, sem dúvida alguma, nocivas à democracia, tanto que o principal argumento do STF para derrubá-las, em 2015, foi o de que elas equiparavam empresas a cidadãos, ferindo princípios constitucionais.

Em 2017, o Legislativo achou por bem disponibilizar recursos públicos para as campanhas eleitorais e aprovou a criação do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC). No primeiro ano em que vigorou, em 2018, o fundão recebeu R$ 1,7 bilhão; em 2020, foram R$ 2,03 bilhões; e em 2022, foram R$ 4,9 bilhões.

Como o Congresso manteve esse mesmo valor para o fundo eleitoral neste ano, os parlamentares acreditam terem sido bastante comedidos na definição de seu orçamento. A diferença, nada sutil, é que a campanha municipal, ainda que envolva mais de 5,5 mil municípios, tende a ser bem mais barata que uma disputa de alcance nacional para a escolha de presidente, governadores, senadores e deputados federais e estaduais.

O avanço da internet e de tecnologias para impulsionar propagandas tornou as campanhas muito mais baratas. Não é isso, portanto, que justifica o tamanho que atingiu o fundão, mas o apetite insaciável dos políticos por recursos que facilitem a escolha de aliados em suas bases.

A solução para dar fim a essa imoralidade financiada com dinheiro público não é, no entanto, reeditar as doações empresariais. Os partidos, enquanto pessoas jurídicas de direito privado, precisam lutar para convencer os cidadãos a contribuir para o sustento de suas atividades, entre as quais as campanhas eleitorais. Isso requer uma corajosa autocrítica sobre o papel que exercem na sociedade.

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Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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