Diplomacia estouvada (com comentário nosso)

By | 12/01/2024 7:17 am
Imagem ex-librisO governo brasileiro tomou a infeliz decisão de endossar a denúncia por “genocídio” contra Israel apresentada à Corte Internacional de Justiça (CIJ) pela África do Sul no fim de dezembro. Pouco importa se esse alinhamento decorre de ignorância, cálculo político ou má-fé do presidente Lula da Silva e dos acólitos que o orientam na condução da política externa. O fato é que o Brasil só tem a perder se imiscuindo dessa forma lamentável numa questão muitíssimo complexa – e para a qual não está devidamente apetrechado para exercer qualquer influência relevante.

Em primeiro lugar, é preciso ter claro que o caso apresentado pela África do Sul não leva em conta o fato de que Israel foi atacado por um grupo terrorista cuja missão declarada é exterminar os judeus. Ademais, identifica intenções genocidas em declarações de autoridades israelenses, o que é obviamente insuficiente para caracterizar o crime. Ou seja, não tem bases fáticas e jurídicas sólidas o bastante para instruir uma acusação séria de “genocídio”, nada menos, perante a CIJ. É verdade que Israel, ora governado pela coalizão mais extremista de sua história, tem cometido atos que podem certamente se caracterizar como crimes de guerra em Gaza. Daí a acusar o país de cometer “genocídio” contra os palestinos, no entanto, vai uma distância enorme.

Ademais, não é trivial acusar de “genocídio” um país cuja existência se legitimou justamente por causa da tentativa de genocídio do povo judeu na Europa por parte da Alemanha nazista. Também é particularmente grave acusar Israel de “genocídio” sem considerar que o país só atacou Gaza depois de ter sofrido um massacre inaudito por parte de um grupo palestino que defende a dizimação do povo judeu.

A tipificação do crime de genocídio, aliás, foi a resposta da comunidade internacional à dimensão extraordinária do Holocausto. Ou seja: não é qualquer crime de guerra que pode ser caracterizado como genocídio. Por esse motivo, os chefes de Estado e de governo devem ser extremamente cautelosos ao imputar a alguém ou a algum país a prática de genocídio, sob pena não só de cometer injustiças, mas de banalizar o próprio crime.

Lula da Silva, como é notório desde sempre, carece dessa prudência. Ciente de que a acusação de “genocídio” contra Israel é voz corrente entre a militância esquerdista no Brasil e no mundo, Lula adere ao exagero retórico na expectativa de parecer um humanista, sem se preocupar muito com as consequências práticas de seus atos e palavras em relação aos interesses do Brasil que ele governa.

Se havia algo que o Brasil poderia ganhar ao se envolver no conflito no Oriente Médio era a confiança tanto de israelenses como de palestinos, dada a tradição de equilíbrio do País nas suas relações internacionais, para se apresentar como um dos possíveis mediadores do conflito. Agora, nem isso. Ao posicionar o Brasil ao lado de um dos contendores de forma escancarada, Lula mina essa confiança, sem que fique claro o que o Brasil ganha em troca – a não ser, é claro, o aplauso dos ditadores e autocratas do tal “Sul Global”, bloco liderado por China e Rússia, que se presta a antagonizar o Ocidente.

Enquanto se dispõe a ser bastante assertivo na condenação de Israel, contudo, Lula tem sido bastante compreensivo com a Rússia do ditador russo Vladimir Putin depois que esta, sem qualquer justificativa, invadiu a Ucrânia e cometeu ali uma série de crimes de guerra. Tampouco se recorda de qualquer iniciativa de Lula para criticar a repressão desumana que a China empreende contra a minoria uigur em seu território. Nada como a solidariedade entre os sócios do “Sul Global”.

Lula vende a ilusão de que é um estadista. Mas decisões como essa, de apoiar uma acusação infundada de “genocídio” contra Israel, só revelam que ainda lhe falta o básico para esse reconhecimento: a cautela diplomática e a firmeza na defesa de princípios humanistas acima de qualquer interesse político-ideológico.

Comentário nosso

Nunca fui contra elegermos pessoas de pouca cultura inelectual como candidatos a cargos eletivos. Chico Bocão era semi-analfabetos mas foi um dos vereadores mais lúcidos que conheci. Patos já teve outros no passado recente, como Cícero Sulpino e Apolônio Gonçalves. Tinham poucas letras, mas muita sabedoria e prudência.  E não faziam vergonha em parte nenhuma. Lula tem superado as suas deficiências com assessores qualificados, o que é o que salva os que têm menor volume de conhecimento. Mas ou está achando que é “rei da cocada preta” e não quer ouvir ninguém, ou está sendo muito mal assessorado. Esperava-se que a nova esposa, a Janja, lhe inspirasse mais prudência e conhecimento, mas parece que não está conseguindo. Que Deus tenha pena de nós. (LGLM)

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Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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