Vazio petista. Falta de renovação de lideranças (com comentário nosso)

By | 12/01/2024 8:08 am
Imagem ex-librisNoves fora o jogo fluido das articulações partidárias em períodos pré-eleitorais, o retorno da ex-prefeita Marta Suplicy ao PT e a indicação que será ela a vice na chapa de Guilherme Boulos (PSOL) à Prefeitura de São Paulo escancaram algo muito mais relevante e sombrio do que a euforia lulopetista deu a entender ao anunciá-la: o esvaziamento do partido no Estado e na cidade em que nasceu, há mais de 40 anos.

Oficialmente não há grandes razões para desabonar o entusiasmo do comando do PT, ao tirar tanto do atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), quanto de uma candidata oposicionista como Tabata Amaral (PSB) a possibilidade de ter Marta Suplicy como aliada ou parceira de chapa. Só oficialmente. Na prática, ainda que a escolha possa gerar dividendos eleitorais, a decisão decorre justamente do estado de terra arrasada de nomes, projetos e relevância que vive o petismo em São Paulo.

Sem nomes fortes e sem chances, o PT fez valer o pragmatismo eleitoral. Primeiro, abriu mão da cabeça de chapa numa eleição-chave, algo inédito para um partido que costuma engolir aliados com a facilidade de quem acredita nas próprias virtudes acima de todas as coisas. Ademais, Marta há muito tempo não faz parte do DNA petista, e até esta semana era auxiliar do principal adversário do partido em São Paulo, o que lhe ampliava as resistências internas. Com risco de mais um fracasso iminente, o presidente Lula da Silva passou por cima dos dirigentes paulistanos e recorreu a um nome que até aqui parecia persona non grata, uma vez que Marta é tida por muitos dentro do partido como traidora ao desembarcar do PT e do apoio a Dilma Rousseff durante o impeachment da presidente.

É de um tempo distante a ideia de um PT nascido, crescido e fortalecido em São Paulo. O partido que foi formalizado em 1980 em evento no Colégio Sion, na região central da capital, hoje se encontra esvaziado pelas próprias fragilidades na sua terra de origem. Vácuo de nomes com capacidade de obter votos, desgaste de militantes históricos, saída de cena de outros (muitos dos quais flagrados em malfeitos), encastelamento da burocracia, perpetuação de lideranças que inibem a devida oxigenação, baixa popularidade em regiões periféricas da cidade e uma coleção de derrotas eleitorais significativas no Estado se somam a um problema ainda mais grave: a incapacidade de seu líder maior, o presidente Lula da Silva, de abrir espaço para nomes fortes e independentes.

Desse vício de origem nasce a palidez de nomes, que não se restringe a São Paulo. O partido enfrenta problemas similares no Rio de Janeiro, por exemplo. Mas em São Paulo o PT chegou a eleger 70 prefeitos em 2012, caiu para 8 em 2016 e apenas 4 em 2020. A bancada de deputados estaduais conseguiu crescer em 2022, na esteira da vitória de Lula nas eleições presidenciais. A de federais passou de 8 para 11. Mas, se há uma certeza no partido, é a inexistência de nomes fortes e viáveis a voos mais altos – exceção talvez a Fernando Haddad, embora não se possa dizer que seja exatamente um vitorioso nas ruas, depois de três derrotas consecutivas.

Comentário nosso

Isto que acontece em São Paulo é um reflexo do que estão acontecendo em todo o país. Como a política virou um negócio rendoso, ninguém se preocupa em suscitar novas lideranças.  Basta que cada um examine o que acontece em seu município, quais lideranças novas têm surgido nos últimos vinte anos.  A política é um negócio que passa de pai para filho. Cada liderança antiga estimula um filho, um genro, um sobrinho, um irmão para não perder o controle do “negócio”. Ou seja, as lideranças continuam sendo exercidas pelas mesmas famílias. Quando surge uma liderança fora do grupo familiar ou que possa se tornar independente,  os chefes fazem tudo para descartar esta nova liderança. Nós tivemos há quarenta, cinquenta anos, vereadores que chegaram à Assembléia Legislativa e ao Congresso Nacional. Nos últimos trinta anos quem conseguiu chegar à Assembleia foi “enterrado politicamente”, logo depois, vejamos os casos de Padre Levi, Carlos Candeia, Dr. Ivânio Ramalho e Dr. Érico Djan. Vereador nenhum depois de Gilvan Freire chegou mais à Assembleia Legislativa.  Nenhum vereador chegou sequer a ser vice-prefeito.  Nos últimos quarenta anos quem teve sucesso ou era Motta ou Wanderley, quando não eram as duas coisas ao mesmo tempo. Nabor Wanderley foi eleito por Chica Motta. Talvez o partido com mais lideranças em Patos seja o PT, com Lenildo, Edileudo e Zé Gonçalves, este importado do PCdoB, mas todos meio satélites do grupo Motta. Outras possíveis lideranças  como Germana, Érico e Cícinho já foram cooptados por Nabor. E outrso ainda poderão seguir o mesmo caminho. Vamos ver se a oposição vai conseguir suscitar alguma liderança além do Dr. Ramonilson, Jamerson e Josmá. O resto está “debaixo da saia” da prefeitura. (LGLM)

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Category: Destaques

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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