Eis a conta do populismo tributário. A bomba que Bolsonaro deixou! (com comentário nosso)

By | 16/01/2024 7:04 am
Imagem ex-librisDiversos Estados brasileiros decidiram aumentar em até 2,5 pontos porcentuais as alíquotas modais do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) neste ano. Segundo reportagem publicada pelo Estadão, seis deles já começaram a cobrar mais e outros cinco pretendem fazê-lo até abril.

A alíquota modal corresponde ao padrão cobrado sobre a maioria dos bens e serviços. Hoje, ela varia entre 17% e 22%, a depender do Estado, segundo o Comitê Nacional de Secretários de Fazenda, Finanças, Receita, Tributação ou Economia dos Estados e do Distrito Federal (Comsefaz).

De maneira oportunista, alguns Estados das Regiões Sul e Sudeste chegaram a culpar a reforma tributária pelo aumento do imposto. Em carta divulgada às vésperas da aprovação da proposta pelo Congresso, os Estados afirmavam que a elevação da alíquota modal era uma resposta a um dispositivo que, tomando como base a média de arrecadação do ICMS entre 2024 e 2028, poderia comprometer suas receitas ao longo dos próximos 50 anos.

Era, por óbvio, uma desculpa para livrar governadores do ônus político de elevar a carga tributária. Mas o tiro saiu pela culatra, e os parlamentares optaram por retirar o trecho do texto final que foi a promulgação. São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul decidiram recuar, mas Paraná e Rio de Janeiro mantiveram os planos iniciais e vão elevar suas alíquotas modais em março.

Não cabe fazer um julgamento moral sobre os governadores, como se elevar o ICMS fosse uma decisão que definisse toda a atuação de um gestor público. Quem já elevou as alíquotas em seus Estados não é pior do que aqueles que somente voltaram atrás por causa da pressão popular – mesmo porque nada indica que essa decisão tenha caráter definitivo.

Fato é que a situação fiscal dos Estados, de maneira geral, está muito longe do equilíbrio. A exemplo da União, os Estados possuem certo grau de rigidez nas contas públicas, especialmente em gastos com servidores públicos e aposentadorias. Reformas podem estancar a curva de crescimento desses dispêndios, mas não costumam ter efeitos imediatos e requerem um apoio político difícil de ser obtido das Assembleias Legislativas.

Por isso, é prudente não aumentar essas despesas de maneira excessiva e não abrir mão da arrecadação necessária para sustentá-las. Foi o exato oposto do que se viu nos últimos anos. De forma irresponsável, os governadores optaram por aproveitar o fim da pandemia de covid-19 e a proximidade das eleições para contratar funcionários e conceder aumentos salariais. Em tempos normais, já seria algo questionável, mas o fato é que isso aconteceu em um momento em que as receitas eram atacadas em múltiplas frentes.

No Judiciário, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidia que os Estados não mais poderiam cobrar alíquotas majoradas de ICMS sobre bens e serviços essenciais. No Executivo, o ex-presidente Jair Bolsonaro, já em campanha para a reeleição, iniciava uma cruzada pela redução dos preços dos combustíveis e culpava os Estados por reajustes ocasionados pelo aumento das cotações internacionais de petróleo. Pressionado, o Congresso aprovava leis que alteraram a tributação de bens e serviços que respondiam pela maior parte da arrecadação estadual.

O resultado não poderia ser outro: uma redução estrutural de receitas de mais de R$ 100 bilhões de um ano para o outro. No primeiro ano de mandato do presidente Lula da Silva, os Estados ainda contaram com o auxílio financeiro do governo federal para arcar com suas despesas. Mas essa ajuda não poderia durar para sempre, mesmo porque a União também tem um déficit fiscal para administrar.

Como já se sabia, o corte nas alíquotas de combustíveis, telecomunicações e energia era insustentável. E, agora, os Estados decidiram compensá-lo. A solução foi aumentar a alíquota padrão, ou seja, elevar a tributação de medicamentos, alimentos, bebidas, vestuário e calçados, entre muitos outros itens. O pior é que nem mesmo a nova alíquota modal será suficiente para recuperar todas as perdas, ou seja, vem mais aumento por aí. Eis a conta do populismo tributário.

Comentário nosso

Bolsonaro na sua tentativa frenética de tentar garantir a sua reeleição induziu a redução de vários impostos em 2022, com a finalidade de reduzir o preço dos combustíveis e com isso ganhar o voto do eleitor. Isto sacrificou os Estados que agora tentam recuperar os recursos perdidos. Durante 2023, o Governo Federal  proporciou auxílio financeiro para que o Estados arcassem com parte de suas despesas. Mas o Governo Federal não está em condições de continuar “tapando o rombo” provocado nos Estados pela política populista de Bolsonaro, quando ele próprio tem que combater seus déficits. Ou seja, Bolsonaro “pintou e bordou” e agora temos que pagar a conta! (LGLM)

 

 

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Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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