Mulheres a postos
Para o Exército brasileiro, a fisiologia feminina compromete o desempenho de mulheres, razão pela qual certos postos de combate devem permanecer fechados a elas.
Esse arrazoado faz parte da documentação que o Exército apresentou à Advocacia Geral da União para embasar a posição do governo em ações diretas de inconstitucionalidade, em tramitação no Superior Tribunal federal, que contestam o veto a mulheres em algumas posições nas Forças Armadas.
A AGU acolheu a orientação e se manifestou contra a ampla concorrência feminina para a carreira militar —sem mencionar a fisiologia.
Ainda que se argumente que a força física é atributo essencial para determinadas posições, como tropas de assalto, vetar mulheres não constitui boa medida.
A seleção deve dar-se em bases individuais, não por categorias demográficas. É preciso estabelecer qual é o nível de força necessário e criar um teste físico para aferi-lo.
Nos EUA, esses exames seguem protocolos de modo que não apresentem viés contra as candidatas. Em 2020, o país ocupava a segunda posição na taxa de mulheres em efetivo militar entre os membros da Otan, com 18% —perdia somente para a Hungria (20%). No Brasil, o índice atual é de 10%.
Outros argumentos contrários incluem a coesão da tropa, que seria menor em grupos mistos, e até os custos, como a criação de banheiros e dormitórios femininos em submarinos, por exemplo.
A psicologia de grupo pode constar do treinamento dos soldados, assim como as áreas física e tática. Já os gastos em situações específicas podem de fato ser altos, mas cabe a cada país decidir se vale a pena arcar com eles. A maioria dos membros da Otan que operam com submarinos decidiu que vale.
A presença feminina também exige combate firme à violência sexual, que costuma ser maior entre militares do que entre civis.
Que fardados recorram à fisiologia das mulheres para negar-lhes acesso a certos postos é lamentável. Que a Advocacia Geral da União de um governo que se diz progressista e inclusivo respalde o veto é algo que demanda explicação.
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Comentário nosso
Dificilmente vai se encontrar mulheres mais fortes que o mais forte dos homens. Mas há muitas mulheres mais fortes do que muitos homens. Daí não vejamos por que discriminar as mulheres como integrantes das forças armadas. É só avaliar a capacidade física de cada uma mulher com relação aos postos que tiverem que ser ocupados. Da mesma forma que se avaliam os homens. Os mais fortes são melhores para determinadas funções e os mais fracos são utilizados naquelas funções que exigem menos vigor físico. O mesmo tratamento deve ser dado às mulheres. Há de haver funções em que as mulheres são muito melhores de que muitos homens. (LGLM)