Cresce no Bolsa Família fatia de formados no ensino superior, que tem distorções
A conclusão do ensino superior está relacionada ao aumento da renda pessoal, mas a mera posse de um diploma tem sido menos garantia de emprego ou bons salários.
Segundo estudo do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social, com dados do IBGE, 3,6% dos brasileiros entre 18 e 65 anos em moradias que se enquadram no cadastro de famílias pobres (1,6 milhão de pessoas) tinham curso superior em 2022 —expressiva alta de 1,5 ponto percentual ante 2016.
O cadastro é necessário para obter assistência social de programas como o Bolsa Família. Das pessoas da mesma faixa etária que disseram ter recebido esse benefício, 256 mil (2,1%) concluíram uma faculdade, ante 84 mil (0,9%) em 2016.
Como de costume no país, há grande desigualdade no ensino superior brasileiro —neste caso, acentuada pelo Estado.
As universidades públicas e gratuitas, que têm gasto por aluno comparável aos de países desenvolvidos (US$ 14.735, ante US$ 14.839 na OCDE), atendem pouco mais de 2 milhões de alunos, enquanto outros cerca de 7,3 milhões recorrem à rede privada, de qualidade sabidamente inferior.
Um fenômeno recente e preocupante, aliás, é a explosão das matrículas na educação a distância.
Enquanto isso, alternativas como o ensino técnico não recebem a devida atenção. Relatório de 2022 da OCDE mostra que só 8% dos brasileiros no nível médio cursam essa modalidade; na média dos países da entidade, são 44%. Estamos bem abaixo até de vizinhos como Chile (29%) e Colômbia (24%).
Cumpre, nesse sentido, ofertar mais cursos em compasso com as necessidades do mercado e avançar na reforma do ensino médio, que valoriza a formação técnica.
Já no ensino superior, é necessário diversificar o financiamento das universidades públicas, buscando aportes dos beneficiários de renda mais elevada, e tornar mais efetivo o sistema de avaliação dos cursos a cargo do MEC.
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Comentário nosso
Num país, onde 256 mil formados em faculdade sobrevivem com o Bolsa Família, tem alguma coisa errada com a educação. Num país onde apenas 8% da população frequentou cursos técnicos, quando países como Chile a frequência foi de 29% e na Colômbia de 24%, tem alguma coisa errada com a educação. Num país onde as universidades públicas são oferecidas de graça para os ricos, enquanto muitos pobres tem que se submeter a frequentar universidades particulares tem alguma coisa errada. O Brasil precisa urgentemente de uma revolução na educação, se não a gente vai continuar “indo para o beleléu”. Sem mudanças na educação vamos continuar sendo um país de miseráveis. Com os ricos recebendo a melhor educação, de graça, e os pobres tendo que pagar por uma educação de baixa qualidade. Melhor educação básica para os pobres lhe darão maiores chances de ocuparem melhores faculdades e de graça. (LGLM)