“O general que desejava ser presidente será a grande ausência militar na aglomeração da Paulista”, escreve o colunista Moisés Mendes
(Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre. Matéria publicada no blog Brasil 247, em 23/02/2024)
Se a extrema direita tivesse vencido a eleição, Braga Netto seria para Bolsonaro, na vice-presidência da República, tudo o que Hamilton Mourão nunca foi e nunca tentou ser.
Por seu ativismo bolsonarista, pela fidelidade e pela capacidade de trabalho, Braga Netto seria diferente do antecessor. E pela perspectiva concreta de futuro militar para o projeto iniciado em 2018.
Porque Braga Netto queria mesmo ser o sucessor de Bolsonaro. Não só como um vice engajado ao projeto de governo, ao contrário do que foi Mourão, mas alguém que pudesse criar condições para um fato inédito.
Braga Netto sonhava em ser um general eleito presidente pelo voto, depois de ter sido quase tudo em funções públicas e experimentar a sensação de que é bom e fácil ser político de direita.
E Braga Netto, talvez mais do que Tarcísio de Freitas, que nunca teve raízes bolsonaristas, poderia construir, na vitrine de vice atuante e cúmplice do chefe, uma possibilidade de sucessão.
Braga Netto não iria vacilar, como Tarcísio vacila como criatura do bolsonarismo. Seria o poder fardado, mesmo que meio apijamado, para um projeto de décadas. Um general eleito?
Braga Netto levou a sério a descoberta de que tem vocação para a política. Sempre esteve ao lado de Bolsonaro, como mostram os vazamentos do plano do golpe.
Braga Netto foi quem Bolsonaro chamou, em março de 2021, para o lugar do inconfiável Fernando Azevedo e Silva na Defesa, porque o golpismo não poderia ter indecisos no comando da área militar. Ouviu a convocação quando estava de férias em Maceió, teve um mal súbito e chegou a ser internado.
O general é quem está, sorridente, do lado direito de Bolsonaro na reunião ministerial de julho de 2022, quando detalhes do golpe foram apresentados e deixados como rastros gravados.
Quando Bolsonaro foi acolhido por Valdemar Costa Neto como chefe supremo do PL, depois de derrotado, Braga Neto foi junto. Virou executivo da área de inteligência do partido, com sala própria e assessores na sede em Brasília.
Braga Netto sonhava, sim, com o poder pelo voto, porque os generais tinham inveja do tenente que mandava neles por ter sua força política legitimada pelas urnas.
E continuou em frente, com a derrota de Bolsonaro, para que o chefe se mantivesse no Planalto por um golpe. O general seria seu homem forte, para tudo o que viria como futuro de médio e longo prazo.
Fracassaram na eleição e fracassaram no golpe. Anunciam agora que o homem de fé está sendo largado pelo núcleo que ainda mantém Bolsonaro meio vivo.
Braga Netto foi o escolhido para levar na testa a tatuagem de líder militar golpista, de idealizador, organizador e fomentador do golpe tabajara.
Entregam a cabeça do militar mais fiel, mais dedicado à ideia de um bolsonarismo completamente militarizado e perene, o mais assertivo e considerado o mais brilhante de todos eles.
Esse será o sacrificado como chefe militar dos que fracassaram e desqualificaram as Forças Armadas como incapazes até de organizar um levante. A grande ausência de domingo na Avenida Paulista será Braga Netto, que sempre esteve ao lado de Bolsonaro, em todos os momentos.
Não haverá no trio elétrico de Bolsonaro e Malafaia nenhum outro com o afeto fardado que o general dedicou ao tenente seu líder por quatro anos.
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