Tarcísio de Freitas perdeu o CPF na avenida Paulista

By | 28/02/2024 8:53 am

Se aliados descrevem o governador como um equilibrista, falta explicar por que ele sempre cai para o mesmo lado da corda

(Bruno Boghossian, Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA), na Folha, em 27/02/2024)

Tarcísio de Freitas disfarçou mal. Pegou o microfone, apertou velhos botões do patriotismo (“estamos aqui para celebrar o verde-amarelo”) e lançou palavras genéricas sobre liberdade. Enquanto colegas exibiam uma dose de orgulho golpista, ele disse que era preciso entender um tal “desafio da representatividade”.

O governador paulista tentou fingir que aquele era um comício normal, num domingo qualquer. Exaltou obras de infraestrutura hídrica, citou um questionável milagre de expansão de ferrovias e disse ser grato a seu líder político —sem mencionar que os dois só estavam ali porque um deles corre o risco de ser preso por preparar um golpe de Estado.

O discurso de Tarcísio foi ensanduichado pelas falas de dois notórios bufões do bolsonarismo, Magno Malta e Silas Malafaia. Se a ideia era criar um contraste que permitisse ao governador realçar um figurino moderado, não funcionou. A adesão ao ato e suas companhias desnudam suas convicções mais francas.

Os mais generosos aliados de Tarcísio descrevem o governador como um equilibrista, que tem posições ponderadas, mas depende da herança de Bolsonaro. Falta explicar por que ele quase sempre cai para o mesmo lado da corda, autorizando revanches policiais em forma de carnificina ou abraçando um pacto por anistia a conspiradores golpistas.

A sucessão de Bolsonaro ainda não foi deflagrada porque o ex-presidente quer ser bajulado por mais algum tempo. A associação desse processo e de seus postulantes com o golpismo, por outro lado, já mostra que setores competitivos da direita brasileira topam abrir mão de compromissos democráticos para ter uma chance de voltar ao poder.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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