General Marco Antônio Freire Gomes depôs na sexta, 1, durante cerca de oito horas no inquérito da Operação Tempus Veritatis, que investiga suposto envolvimento do ex-presidente em uma trama golpista que previa inclusive a prisão do ministro Alexandre de Moraes
Em depoimento prestado à Polícia Federal, o ex-comandante do Exército general Marco Antônio Freire Gomes confirmou a participação em reuniões em que foram discutidos os detalhes da ‘minuta do golpe’. O militar foi ouvido por investigadores da Operação Tempus Veritatis, que apura uma suposta tentativa de golpe com possível participação do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O ex-chefe do Exército não é investigado, mas foi chamado a depor por investigadores em razão de mensagens que o ex-ajudante da Presidência Mauro Cid – agora delator – lhe enviou citando a ‘minuta’. Marco Antônio Freire Gomes compareceu à PF nesta sexta, 1, e lá depôs por oito horas, tendo respondido todas as perguntas dos investigadores.
São as mensagens enviadas por Mauro Cid a Freire Gomes que colocam o ex-presidente Jair Bolsonaro no centro da suposta trama golpista sob investigação da PF. O ex-ajudante de ordens afirmou ao general que o ex-chefe do Executivo ‘mexeu’ no decreto, ‘reduzindo’ o texto.
De acordo com a PF, as mensagens foram trocadas após uma reunião de oficiais supostamente aliados ao plano golpista em Brasília, no final de novembro de 2022. Também com Mauro Cid – no computador do tenente coronel – a PF apreendeu imagens de reunião ocorrida em julho de 2022 na qual o ex-presidente estimula seus ministros e aliados a agirem para impedir a vitória ‘da esquerda’ nas eleições de outubro daquele ano.
O inquérito narra que, inicialmente, o decreto sob análise da cúpula do governo Bolsonaro previa não só novas eleições, mas a prisão dos ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Após o ajuste de Bolsonaro, o texto passou a prever somente a prisão de Moraes.
Freire Gomes fora chamado à reunião com Bolsonaro no Palácio do Plaanlto com os demais comandantes das Forças singulares: o almirante Almir Garnier (Marinha) e o brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior (Força Aérea). De acordo com a delação de Cid, confirmada agora pelo general Freire Gomes, este e o comandante da FAB se opuseram à ruptura institucional. Garnier foi o único que se pôs à disposição dos planos do então presidente. Por isso, Freire Gomes se tornaria alvo das ações do grupo palaciano.
Mensagens encontradas no celular do ex-major Ailton Barros – demitido do Exército por razões disciplinares – mostraram que em dezembro de 2022 o ex-candiato a vice na chapa de Bolsonaro, o general Walter Braga Netto, agiu contra Freire Gomes, a quem considerava “indeciso” e “cagão”. Braga Netto afirmava que a “culpa pelo que está acontecendo e acontecerá é do general Freire Gomes”. “Omissão e indecisão não cabem a um combatente”, acrescentou. “Oferece a cabeça dele. Cagão.”
Freire Gomes sentiu-se profundamente atingido pela revelação das mensagens ainda mais porque, na época, estava de luto pela morte de sua mãe, Maria Freire Gomes. A reportagem apurou que o teor dos diálogos de Braga Netto foi considerado “abjeto” por antigos colegas do Alto Comando do Exército (ACE).
Em outras mensagens, o general orienta também ataques ao brigadeiro Baptista Júnior e à família do oficial general, bem como ataca o atual comandante do Exército, general Tomás Paiva, vítima de uma campanha de difamação que procurava apresentá-lo como melancia – verde por fora e vermelho por dentro –, assim como ao futuro chefe do Estado-Maior do Exército, o general Richard Nunes. Nunes comandava então o Nordeste e Tomás, o Sudeste.