Lula fala e interfere onde não deve, cala sobre o que deve e despenca nas pesquisas (concordo, em gênero, número e grau!)

By | 10/03/2024 7:14 am

Seus seguidores aplaudem, como aplaudiriam qualquer coisa. E o resto do País, inclusive o que votou nele em 2022, sem ser petista?

(Da coluna de Eliane Cantanhêde, no Estadão, em 09/03/2024)

Foto do autorO presidente Lula parece, ou finge não ver, mas as coisas estão desandando e as pesquisas apontam para desaprovação maior do que aprovação já nas próximas rodadas, com queda de popularidade nos diferentes segmentos. Fazer mea culpa não é e nunca foi seu forte, mas cadê o decantado faro político, a perspicácia e o carisma de Lula? Está sempre sério, mal-humorado, com declarações recheadas de erros, não só de comunicação, mas de informação e compreensão do mundo.

O que Lula e o Brasil ganham com sua teimosia em negar o óbvio, que Nicolás Maduro é ditador, a Venezuela está em frangalhos e os venezuelanos vivem no pior dos mundos? A líder oposicionista Maria Corina, impedida de disputar as eleições de julho por instituições viciadas, cobrou duramente a posição dele. Lula deu de ombros: “Eu não fiquei chorando quando não pude concorrer”. E, depois de relativizar o conceito de democracia, agora avaliza a lisura das eleições convocadas por Maduro, sem que se saiba com base em quê.

Lula está em seu terceiro mandato à frente da Presidência
Lula está em seu terceiro mandato à frente da Presidência Foto: Wilton Junior/Estadão

Estamos bem. Jair Bolsonaro, presidente golpista, reclamava de quem reagia à covid-19 “com mimimi” ou “como maricas”. E Lula, o presidente democrata, manda a perseguida pela ditadura parar de chorar e cala sobre Alexei Navalny, morto pelo autocrata russo Vladimir Putin, sob indignação e raiva de, literalmente, todo o mundo.

Também não se ouviu uma palavra de Lula sobre a dengue, por exemplo, nem que fosse para explicar que não há produção suficiente de vacinas e estimular medidas básicas de prevenção. Tudo ficou nas costas da ministra Nísia Trindade, mas epidemia não é problema exclusivo da Saúde, mas do País. O líder precisa mostrar presença.

Na economia, Lula também insiste em desdenhar do bom senso e da política econômica de Fernando Haddad, exercitando seu velho populismo e defendendo mais gastos, quando o principal problema é exatamente o equilíbrio fiscal. Haddad se esfalfa pela arrecadação, Lula só quer gastar. Sua base petista acha lindo, mas a realidade grita. Isso não vai melhorar sua popularidade.

As intervenções políticas e voluntariosas na Petrobras e na Vale custam caro e Lula tem de engolir que, no seu primeiro ano de governo, o lucro das duas principais empresas do País despencou em relação ao do último ano de Jair Bolsonaro. As ações seguiram o mesmo caminho. Além de péssima notícia para o Brasil, é um prato feito para a oposição.

Na sexta-feira, 8, as ações da Petrobras chegaram a cair 13% e a empresa perdeu R$ 55 bilhões em valor de mercado. O motivo imediato foi a decisão da cúpula petista da companhia sobre distribuição de dividendos, mas o que mais pesa é a intervenção política de Lula, na Petrobras e na Vale. Como o setor de energia, os investidores, o Brasil e o mundo veem isso?

A pauta econômica e ambiental do governo está parada, com o Congresso digladiando com o Executivo por emendas e com o Judiciário em temas de costume. É ano eleitoral e o tempo corre sem perspectiva de regulamentação da reforma tributária, sem nem sequer início da discussão sobre tributação da renda e sem avanço em questões essenciais para recepcionar a COP 28 em 2025. E a articulação política do governo?

Não adianta Lula reclamar de “má vontade” da mídia, porque quem derruba as manchetes que seriam positivas por negativas é ele próprio. Um exemplo é o massacre de palestinos, que só piora e cada vez dá mais razão à dura condenação que Lula faz a Israel. Até os EUA calibram sua posição: dá armas para Israel, mas começou a jogar comida de aviões para os famintos de Gaza. Lula poderia ganhar manchetes com suas duras cobranças, mas atraiu críticas mundo afora com a comparação, errada sob vários ângulos, da ação israelense com Hitler e nazismo, logo, com o Holocausto.

Em vez de “Lula condena massacre”, as manchetes foram, acertadamente, “Lula compara ação de Israel a Holocausto”. Em vez de “Lula lidera pressão por democracia na Venezuela”, “Lula relativiza democracia”, ou “Lula avaliza ditadura de Maduro”. Em vez de “Lucro e ações da Petrobras e da Vale disparam”, “Lucro da Petrobras cai 33% e valor da companhia cai R$ 55 bilhões num dia”. Em vez de “Lula cobra controle das contas públicas”, “Lula exige mais gastos, ignorando equilíbrio fiscal”.

Seus seguidores aplaudem, como aplaudiriam qualquer coisa. E o resto do País, inclusive o que votou nele em 2022, sem ser petista? A resposta pode estar nas pesquisas Quaest e Ipec. A popularidade dele caiu entre os que já eram contra, como os evangélicos, e entre os que eram a favor, como as mulheres. Logo, logo, as curvas acabam cruzando, com aprovação menor do que desaprovação. Lula vai finalmente compreender que as coisas estão desandando?

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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