A defesa “técnica” acha que os inquéritos da Polícia Federal contém erros de origem, como afirmar que a falsificação de cartões de vacina seria passo rumo ao golpe de Estado. Mas os investigadores apresentaram, no caso específico dos cartões de vacinação, um conjunto bem detalhado que vai dar trabalho à sua equipe de criminalistas.
No âmbito “técnico” da acusação de tentativa de golpe de Estado, a defesa enfrenta depoimentos contundentes de ex-comandantes nas Forças Armadas que falaram como testemunhas – pesa mais do que delações. Supõe-se que a PGR montará uma peça única de denúncia, compondo com os tais cinco eixos de atuação dos investigadores um “conjunto da obra” que vai de joias e vacinas a golpe de Estado.
O lado “político” da defesa é igualmente complicado. Ela trata obviamente de consolidar a versão de que tudo não passaria de uma perseguição judicial movida pelos mesmos tribunais superiores que o impediram de governar e favoreceram Lula. Essa versão não parece ter conquistado muito mais gente além do núcleo duro do bolsonarismo.
A defesa “política” ensaia repetir exemplos históricos nos quais personagens políticos transformaram os tribunais que os julgavam em grandes plataformas de propagação de suas ideias, afirmando-se como profetas perseguidos. Para desempenhar esse papel, falta a Bolsonaro principalmente a capacidade de formulação de um discurso razoavelmente coerente.
Pergunta óbvia é saber se uma provável prisão de Bolsonaro “engrandece” o personagem ou, ao contrário, o diminui como influente figura política. A resposta a essa questão especulativa depende em grande medida das investigações em curso – quanto mais politizadas, mais rápida a desmoralização delas, e uma “salvação” de Bolsonaro.
O problema para a defesa técnica é a notória incompetência e amadorismo de Bolsonaro, que espalhou rastros. Diante dos elementos que se acumulam, o próprio ex-presidente parece dirigir as esperanças de seus seguidores para um outro tipo de esperança, que tem contornos de auto engano.
Se Lula foi condenado em três instâncias e o STF o devolveu ao Planalto, seria razoável acreditar, nessa versão, que uma virada de maré no ambiente político proporcionaria a um eventual condenado Bolsonaro destino similar, em nome de “pacificação” ou o que seja. Mas essa maré não parece estar surgindo.