Investigações do caso Marielle são ampliadas e delegado Rivaldo é o fio condutor; mas tem mais?

By | 25/03/2024 7:10 am

Já foram presos os executores e agora também os três mandantes, mas a guerra continua e as investigações avançam sobre um dos esquemas de propinas e de obstrução de Justiça que funcionam em todo a área de segurança do Estado

(Opinião Eliane Cantanhêde, comentarista da Rádio Eldorado, Rádio Jornal (PE) e do telejornal GloboNews em Pauta, no Estadão, em

Foto do author Eliane Cantanhêde
O assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes não foi um crime isolado, mas sim um dos muitos praticados por uma organização criminosa incrustada em todos os Poderes e em toda parte no Rio de Janeiro, onde polícia, milícia, política e judiciário se embolam. Assim, já foram presos os executores e agora também os três mandantes, mas a guerra continua e as investigações avançam sobre um dos esquemas de propinas e de obstrução de Justiça que funcionam em todo a área de segurança do Estado.

As prisões, neste domingo, 24, do deputado federal Chiquinho Brazão, do conselheiro do Tribunal de Contas do Rio Domingos Brazão e do delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil, apontados como mandantes do crime, são um alívio para a sociedade e foram comemoradas pelas famílias de Marielle e Anderson. A grande surpresa, porém, foi a inclusão de Rivaldo. Ele é o fio condutor da continuidade das investigações, que vão aprofundar também as motivações do assassinato. Ok, milícias e grilagem na zona oeste do Rio. Mas tem mais?

Uma das grandes dúvidas é exatamente por que Rivaldo foi nomeado para a Polícia Civil, na véspera do crime, mesmo já sendo alvo de investigações e de um parecer frontalmente contrário feito pela Subsecretaria de Segurança do Rio. Quem o nomeou foi o general Walter Braga Neto, então comandante da intervenção na segurança do Rio, depois ministro e candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro à reeleição, em 2022.

Rivaldo Barbosa, delegado preso suspeito de planejar o assassinato de Marielle
Rivaldo Barbosa, delegado preso suspeito de planejar o assassinato de Marielle Foto: Wilton Junior/Estadao

Cara boa, bem educado e bem falante, Rivaldo foi uma das primeiras autoridades a consolar e garantir rígida apuração para as duas famílias, após o crime. Mas, se ele enganava com desenvoltura quem era fora do sistema, dentro já se sabia exatamente quem era. Sua nomeação, portanto, foi injustificável.

Agora, ele é apontado não só como pessoa chave para obstruir as investigações, pago pelos mandantes para esconder provas, confundir e empurrar pela barriga. É ainda pior, mais macabro: ele participou ativamente do planejamento do assassinato, como uma espécie de conselheiro dos irmãos Brazão.

Foi assim, e por esse tipo de gente nos Poderes, que a solução de um crime que repercutiu mundo afora demorou longos seis anos, com empurra-empurra, disse-me-disse e impunidade dos mandantes, como atestam o ex-ministro da Segurança Raul Jungmann e a então procuradora geral da República, Raquel Dodge – hoje candidata a uma vaga no STJ -,  que nadaram contra a corrente o quanto puderam, mas não conseguiram federalizar o inquérito. No máximo, acabou sendo aberta a investigação federal da investigação estadual.

Como não há crime perfeito, mandantes e executores cometeram um erro grave: menosprezar a força de Marielle Franco. Acharam que seria mais um cadáver empilhado entre os crimes sem solução e logo abandonado, como há tantos outros de prefeitos, vereadores, juízes… Marielle, porém, era uma síntese poderosa no Brasil: mulher, negra, gay, de periferia, vereadora voltada realmente para as pautas populares e audaciosa contra as milícias. Ainda por cima, linda e carismática.

Foi assim que esses vários segmentos da sociedade se movimentaram para gritar, chorar, pressionar e exigir um desfecho digno para a investigação, Marielle e Anderson, suas famílias e amigos e, sobretudo, o Brasil. As duas principais perguntas estão respondidas: quem matou Marielle e Anderson e quem mandou matá-los. Agora, é saber com mais precisão o porquê e desbaratar as quadrilhas incrustadas nos Poderes que matam, esfolam, achacam e humilham a alma dos brasileiros.

Até lá, uma velha e sofrida pergunta ronda o Rio de Janeiro: até quando? E uma nova e apavorante insiste em ecoar: quais serão as próximas Marielles, os Andersons, os médicos que tomavam cerveja na praia, as crianças pobres, pretas e pobres vítimas de balas perdidas dentro de casa ou na sala de aula?

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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