Entre líderes globais que foram presos e conseguiram se recuperar para depois tornarem mandatários em seus países há gente de todas as ideologias
(Opinião por Fabiano Lana, Filósofo e consultor político, em 26/03/2024)
Bolsonaro, ao que tudo indica, preferiria andar lépido às margens do rio Danúbio, em Budapeste, do que, ouvir, pelas janelas de sua cela, um provável “bom dia, mito!”, celebrado por tantos que o admiram, inclusive, provavelmente, pelas que ele mesmo chama de “senhorinhas com a Bíblia na mão”. Com bastante empenho, iriam tentar divulgar a versão de que a prisão foi injusta e que o Brasil não vive uma democracia. Não se esqueceriam do “mito”. Mas o ex-presidente pode ser que não queira este caminho algo doloroso.
Entre líderes globais que foram presos e conseguiram se recuperar para depois tornarem mandatários em seus países há gente de todas as ideologias. Temos Lenin, da União Soviética, por insurreição. Nelson Mandela, da África do Sul, por terrorismo. Hitler, na Alemanha, por tentar um golpe de Estado, assim como Hugo Chávez, na Venezuela. Temos Dilma Rousseff, por atividades revolucionárias. E, obviamente, Luiz Inácio Lula da Silva, cujo caso é em demasia conhecido por nós.
Todos eles, quando presos ou depois de soltos, souberam utilizar os momentos de encarceramento como plataforma para uma chegada triunfal ao poder, no caso de Lula, uma volta. A impressão de ser injustiçado é um poderoso elemento para agregar apoiadores a uma causa. E a arbitrariedade de ter ficado confinado é muito mais intensa, do ponto de vista de uma sociedade, do que um exílio.
Talvez haja um cálculo aí na decisão de Bolsonaro. Ele tem a consciência de que, com a atual composição do Supremo Tribunal Federal, é impossível uma reviravolta no seu caso, como ocorreu com Lula. Ele também vê que os peixes pequenos que vandalizaram a praça dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8/1 de 2023 obtiveram penas implacáveis. Pela sua importância, seu destino de ex-presidente pode ser muito pior.
Fica uma dica para um presidente que, segundo já foi publicado na imprensa, possui hábitos alimentares bastante restritos e pouco variáveis a ponto de preferir levar para fora a comida do Brasil. Os pratos húngaros, como o goulash, são bastante temperados. Melhor levar as dezenas de pacotes de miojo que costuma estocar na sede de seu partido em Brasília.