Bolsonaro diz que passou duas noites na Embaixada da Hungria para ‘manter contatos’]
Bolsonaro, é óbvio, homiziou-se na embaixada húngara, como revelou o New York Times, por receio de ser preso por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF). Quatro dias antes daquela entrada constrangedora na representação diplomática, com um de seus seguranças batendo palmas na porta para que alguém viesse abri-la na calada da noite, o STF havia mandado a Polícia Federal (PF) apreender o passaporte de Bolsonaro como uma das medidas da Operação Tempus Veritatis, que investiga a tentativa de golpe de Estado por parte de bolsonaristas.
Ora, quem deseja conversar com diplomatas sobre o que quer que seja agenda uma audiência, marca almoço ou jantar, talvez um café ou um chá da tarde. Diz o que tem de dizer, ouve o interlocutor e vai embora. Ninguém leva trouxa de roupas, travesseiro, lençóis, um fardo de água mineral e uma garrafa térmica para um encontro com um dignitário estrangeiro. O objetivo de obter asilo político da Hungria parece evidente. Na embaixada, Bolsonaro estava fora do alcance das autoridades brasileiras. Portanto, logrou seu intento. Durante o tempo em que permaneceu no local, Bolsonaro não poderia ser abordado por policiais brasileiros para efeitos de cumprimento de um eventual mandado de prisão expedido contra ele.
De quebra, valendo-se de sua relação pessoal com o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, Bolsonaro – mesmo fora do poder e inelegível – ainda deu um jeito de causar um incidente diplomático para o Brasil. Mais um. Por meio do Itamaraty, o governo Lula da Silva, como era de esperar, chamou o embaixador húngaro Miklós Halmai para dar explicações. O diplomata tergiversou sobre a natureza da guarida dada a Bolsonaro.
O ministro do STF Alexandre de Moraes, por sua vez, intimou Bolsonaro a prestar esclarecimentos num prazo de 48 horas (contadas a partir do dia 25 passado). Além disso, a PF instaurou novo inquérito contra o ex-presidente para apurar se ele tentou uma “manobra diplomática” para escapar da eventual responsabilização penal por seu papel na tentativa de golpe de Estado – de resto, uma obviedade.
Há quem sustente que Bolsonaro, com essa fuga para a Embaixada da Hungria, estaria provocando o STF a decretar sua prisão preventiva. A prisão, sobretudo num ano eleitoral, faria de Bolsonaro uma espécie de “mártir” e mobilizaria seus apoiadores. A tese faria sentido se Bolsonaro fosse esse estrategista e se acaso tivesse coragem de enfrentar o xilindró em nome das ideias que defende. Não parece ser o caso. Ao que tudo indica, foi apenas medo de enfrentar as consequências de seu golpismo.