Gafe política e infração eleitoral marcaram falas do presidente no 1º de Maio
(Hélio Schwartsman, colunista da Folha, em 02/05/2024)
Lula está fora de forma. Em outros tempos, não teria cometido um 1º de Maio como o da última quarta-feira.
O presidente tem não só o direito como o dever de apoiar Guilherme Boulos na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Isso é parte de um acordo que ele em nome do PT firmou dois anos atrás, e cumprir acordos é importante na política. O problema é que Lula não é só o comandante do PT. Ele também lidera uma coalizão de governo que reúne mais de uma dezena de partidos. Os três principais postulantes à prefeitura, Boulos (PSOL), Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSB), pertencem a legendas que integram essa aliança. O MDB tem três ministérios, e o PSB, dois.
Isso significa que Lula, ao apoiar seu candidato, deveria ter o cuidado de não melindrar muito aliados de outras siglas. Não teve. Suas declarações sobre Nunes incomodaram lideranças do MDB. Fazer isso num momento em que interessa ao governo desanuviar o clima de confronto não é inteligente.
E Lula não incorreu só em gafe política. Ele também cometeu infração eleitoral ao pedir explicitamente votos para Boulos, o que é proibido na fase de pré-campanha. Até aí, nada muito grave. A penalidade é uma multa. Só que o presidente fez o que fez num evento oficial, parcialmente custeado com recursos públicos. Se a Justiça Eleitoral mostrasse para com Lula e Boulos o mesmo rigor que vem impondo a políticos bolsonaristas, os dois estariam encrencados.
Não acho que vá acontecer. Bolsonaro e seus acólitos recebem um tratamento duro não só porque violaram a letra da lei (em alguns casos, nem isso) mas também porque atacaram as instituições, o que levou a uma contrarreação do STF e do TSE. Não é o ideal dentro da lógica do direito, mas é como o mundo real funciona. A questão é que não dá para viver em modo de contrarreação para sempre. Se a Justiça zela por sua credibilidade, precisa voltar a atuar numa marcha mais ortodoxa.
Comentário nosso
Lula tem decepcionado a muitos dos que votamos nele. Tem feito uma besteira atrás da outra. Inclusive entrando em choque com os que fazem o seu entorno, levado, principalmente, por petistas xiitas. Ele não pode esquecer que antes de ser uma liderança partidária, com compromissos partidários, é um presidente da Repúblca, cuja maior obrigação é governar o país, pensando na população com um todo. O fato de ter vencido Bolsonaro no voto livre não o autoriza a querer governar com um rolo compressor sem respeitar ninguém. (LGLM)