(Jozivan Antero, no Polêmica Patos, em 02/05/2024)
Diversos relatos, desabafos e casos concretos de pessoas que estão viciadas em jogos online, rifas, bingos e outras formas de apostas vem levando famílias ao desespero também na cidade de Patos. A cada dia trabalhadores e trabalhadoras mergulham em dívidas causadas por jogos e não sabem como resolver o pagamento.
Entre os vários casos que chegaram à redação do Polêmica, destacamos três mais graves:
Uma jovem cuidadora acabou contraindo uma dívida de quase 15 mil reais e entrou em crise com a sua família. Ela vem buscando ajuda psicológica, pois começou gastando pouco, mas a dívida foi crescendo e causou transtornos envolvendo mais pessoas.
Em outro caso, um servidor público perdeu o emprego ao começar a fazer várias dívidas para pagar os jogos online. O cidadão pediu dinheiro emprestado aos colegas e amigos para manter o vício, não conseguiu pagar e acumulou dívida de quase 18 mil reais. Sem condições de pagar, o ambiente de trabalho se tornou insustentável e ele pediu demissão e o seu casamento entrou em crise.
Uma funcionária de uma escola da cidade de Patos entrou em surto e tentou suícidio ao chegar a dever quase 20 mil reais. Ela viu a dívida com os jogos crescendo e se tornar impagável diante das condições da sua família. O seu empregador está pagando ajuda psicológica para a trabalhadora que vem tentando conseguir dinheiro para voltar a ter vida social e econômica.
A reportagem do Polêmica entrevistou a psicóloga clínica Mayra Oliveira para entender melhor como se dá essa situação e como lidar com o vício em jogos online e outros.
“A questão dos jogos eles se caracterizam dentro dos jogos patológicos. É um adoecimento! Dentro da psicologia nós temos um DSM (Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e esse DSM explica que os jogos se tornam doentios e patológicos…a questão da compulsão. Uma das coisas que eu tenho visto mais frequente é o efeito manada, ou seja, esses jogos de azar, as pessoas começam a postar nas redes sociais e postar ganhos, muito lucro, principalmente tudo que consegue obter dentro desses jogos…quando as pessoas começam a visualizar aquilo, elas começam a querer aquilo. Dentro do nosso cérebro tem um sistema de recompensa que libera dopamina, que dá uma sensação de prazer, que geralmente acontece quando as pessoas jogam. Quando elas estão jogando e tem aquela necessidade de ganhar, porque ‘apostei, quero ganhar, quero dobrar esse dinheiro’, faz com que o cérebro fique ali ativando essa sensação de prazer e de recompensa mesmo que elas estejam perdendo. Isso faz com que as pessoas vão se acumulando em dívidas…fica tão séria a compulsão que elas acabam, por exemplo, vendendo objetos para jogar…”, relatou Mayra.
OUÇA entrevista completa com a psicóloga:
Comentário nosso
Este é um problema sério que está se alastrando e levando o desassossego a muitas famílias. Pais e mães de família se endividando na tentativa de melhorar de sorte com os jogos, principalmente os jogos de internet. Um jogo de loteria, semanal ou algumas vezes por mês, ainda é suportável. Mas os jogos de internet, alimentam a compulsão, pois permitem jogadas seguidas no mesmo dia. Tenho um parente, que tudo quanto ganha “trabalhando no pesado” gasta com estes jogos, abandonando as suas coisas e até se descuidando de si mesmo, preocupando intensamente os seus parentes. Antigamente eram os jogos de cartas, hoje surgiram estes jogos de internet para desassossegar as famílias. Um amigo meu dizia, na época, a respeito do carteado, que era na época o pior vício que existia. Segundo ele, “o cachaceiro às vezes tinha uma ressaca grande e parava por alguns dias, o raparigueiro às vezes encontrava uma rapariga sincera que não o explorava muito, mas o jogador morria em cima duma mesa de jogo, sem comer, sem beber e sem dormir!” No Piancó, conheci um cidadão que perdeu a casa de morada numa “mesa de carteado” e terminou se suicidando por dívidas de jogo. O pior de tudo não são as dívidas em si, é o cidadão entrar em depressão e muitas vezes recorrer ao suicídio. Por isso, se você tem algum parente viciado em jogo, faça o possível e o impossível para afastá-lo do vício, sob pena de vir a perdê-lo por isso. (LGLM)