Com uma gestão tisnada pela mediocridade e pela repetição de velhos erros, jogar luz sobre a metade cheia do copo de avaliação pode fazer parecer que a tormenta chegou ao fim. Engano. O dado mais eloquente da pesquisa é o crescimento contínuo da massa da população que desaprova o governo: uma curva ascendente desde agosto do ano passado. A economia foi mais uma vez citada como o principal problema do País, à frente da saúde e da violência. Fiel ao DNA de quem tem plena convicção de que a história do Brasil começa e termina com ele, Lula até aqui ou adotou o discurso triunfalista, ou culpou ministros por não saberem “contar a verdade”, ou ainda responsabilizou o pouco tempo de mandato para cumprir o que prometeu.
Lula e seus bajuladores têm possíveis caminhos a escolher. Um deles é o modo delirante, que até aqui domina os corações da caciquia lulopetista: continuar achando que a desaprovação é culpa da “percepção” da população, incapaz de ver e reconhecer os grandes feitos de seu mandato. Segundo tal ótica, a maioria ainda não conseguiu se dar conta de que a economia melhorou, com inflação controlada e queda do desemprego, por exemplo; logo, isso se resolve com uma comunicação oficial mais eficiente. Há também o modo realista: entender as fragilidades da gestão, construir enfim um plano para o que resta de governo, analisar o baixo impacto de indicadores econômicos sobre a vida real da população – cujo poder de compra real está abalado – e corrigir rotas, de modo a produzir resultados no longo prazo.
Levando-se em conta a vocação do PT de ignorar a realidade e a ambição de Lula de ser reconhecido como o maior líder político da história brasileira sem que, para isso, seja necessário governar de fato, é natural que o lulopetismo esteja a administrar o Brasil com base em pesquisas de opinião. Assim, ansioso para produzir números positivos no curto prazo, é provável que o presidente dobre a aposta no populismo que marcou o desastroso mandarinato petista encerrado com o impeachment de Dilma Rousseff. Afinal, sempre que precisou escolher entre a responsabilidade e a popularidade, Lula nunca titubeou. Para ele e seus discípulos petistas, só há vida na gastança desenfreada e na sabotagem aos que tentam impor racionalidade no manejo do dinheiro público.
Comentário nosso
É aí que mora o perigo. Lula frustra as espectativas de quem votou nele o que o torna impopular. Na tentativa de recuperar a antiga popularidade e o manter com candidato competitivo para 2026, Lula pode descambar para a demagogia. Ou seja, trabalhar não para melhorar a situação do brasileiro, mas para melhorar a própria situação eleitoral. Promovendo medidas que aumentem a sua visibilidade eleitoral, em prejuizo de medidas que realmente melhorem, de forma sustentável, a condição de vida da população. Há medidas administrativas que promovem melhorias definitivas e há medidas que enchem olhos e ouvidos mas não produzem resultados definitivos, apenas passageiros. Temos que ter sentido crítico para avaliar que medidas dos nossos governantes são eficazes e quantas apenas nos tentam enganar. (LGLM)