Coronel afirma que decisão de Tarcísio só ‘interessa para quem faz coisa errada’ na PM (confira comentário nosso)

By | 05/06/2024 7:11 am

Decisão de permitir aos policiais desligar a câmera não afeta os bons policiais, mas, ao diminuir o comando e o controle na PM, ela afeta a sua eficiência e favorece a banda podre da polícia

(Marcelo Godoy, Opinião do Estadão, em 04/06/2024)

 

Foto do author Marcelo GodoyO coronel José Alexander de Albuquerque Freixo concluiu 33 dias de caminhada até Santiago de Compostela. Deve ter ido procurar respostas. Ex-subcomandante da PM paulista, ele foi destituído pelo governador Tarcísio de Freitas quando este preparava o fim das gravações contínuas das câmeras corporais da polícia.
Policiais Militares portando câmera no uniforme realizam ronda na Praça Coronel Fernando Prestes, no Bom Retiro
Policiais Militares portando câmera no uniforme realizam ronda na Praça Coronel Fernando Prestes, no Bom Retiro Foto: Taba Benedicto/Estadão

Uma primeira resposta foi dada por Albert Camus em Réflexion sur la peine capitale. Ele contava que o pai, ao assistir à execução de um facínora na guilhotina, vomitou. E concluía: “A Justiça que faz vomitar o homem justo não é Justiça”. Há quem acredite combater o crime só com a força. A autorização para os PMs desligarem as câmeras vai além dessa dimensão; ela afeta a eficiência policial. Esta não existe sem comando e controle.

Há décadas, coronéis sabem que polícia eficiente é legalista. Deve estar presente no território e seguir procedimentos operacionais padrão (POPs). Mas políticos insistem no formato Rambo de operações especiais. Multiplicam-se fardas camufladas e boinas. Aposta-se na Operação Escudo. Para o coronel José Vicente, a PM havia aprendido a lição. Ele não tem dúvida: a decisão de Tarcísio só interessa a quem faz coisa errada.

Pode-se perguntar: se o disparo da gravação se der só no despacho da viatura para uma ocorrência – minoria do tempo de trabalho –, toda abordagem ocasional deixará de ser gravada? O comando deixará de verificar em mais de 90% do turno policial se os POPs foram cumpridos? Um policial que não coloca a arma na posição sul em uma abordagem arrisca matar um inocente com um disparo acidental. Também não se vai coibir quem pega o “arrego” do tráfico, essa minoria que envergonha a farda? O mesmo se dará com quem faz olho de vidro e não atende a população ou abusa do poder ou faz segurança privada? Em suma, desligar a câmera é tudo o que o mau policial, o que a banda podre quer.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, acompanhado de seu Secretario da Segurança, Guilherme Derrite
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, acompanhado de seu Secretario da Segurança, Guilherme Derrite Foto: WERTHER SANTANA / ESTADÃO CONTEÚDO

O bom policial – a grande maioria – não teme as câmeras. Ele a tem como aliada para sua proteção. Por fim, o botão de desligar pode arruinar a cadeia de custódia das provas, pois advogados vão dizer que os vídeos foram editados pelo PM, tornando o instrumento imprestável.

Tarcísio diz querer uma solução mais barata pois a atual gasta muito e grava mal. Devia achar um sistema que funcionasse. Audiências judiciais são gravadas. Se é assim para juiz, por que ser diferente com o policial fardado? O populismo vê na frouxidão do controle uma forma de conquistar votos. José Vicente conclui com um exemplo: “Foi testada 289 vezes a estratégia de operações especiais para pacificar a favela do Jacarezinho (Rio), entre 2007 e 2020, com 186 mortos. Se funcionasse, não bastariam 15 ou 63 ou 150?” Tarcísio não precisa ir a Compostela para obter as suas respostas.

Comentário nosso

Concordo plenamente com os coronéis que são favoráveis ao uso das câmeras. Quem  é contra o uso ou a limitação do uso das câmeras é quem quer a permanência da bandidagem dentro da polícia, seja no cometimento de violência seja no recebimento de propinas do tráfico de drogas. Ou seja, a limitação do uso das câmeras só interessa à banda podre da polícia. Quem não conhece policiais que ganham menos do que um professor e andam de carro importado? E os políticos que defendem uma polícia sem controle são tão bandidos quanto os participantes da banda podre da polícia. (LGLM)

 

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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