Quem, afinal, ainda precisaria ser convencido de que a educação é a base de tudo, de que sem um ensino básico de qualidade jamais alcançaremos nossos objetivos de acelerar o desenvolvimento socioeconômico, ampliar a cidadania e reduzir as desigualdades? Quem ainda tem dúvida de que as deficiências na formação de capital humano prejudicam enormemente nossas perspectivas no complexo e competitivo jogo internacional? De Rui Barbosa a Manoel Bonfim, na República Velha, às qualificadas organizações da sociedade civil dedicadas atualmente ao tema, passando por Hélio Jaguaribe, Mario Henrique Simonsen e muitos outros especialistas acadêmicos do pós-guerra até hoje, é longa e ideologicamente variada a lista de entusiastas. Ainda assim, não embarcamos no mesmo bonde no qual seguiram países como Finlândia, Coreia e Cingapura – para citar alguns com patamar semelhante ao do Brasil décadas atrás.
Das promessas do passado ao gogó presidencial do presente, parece haver um enorme abismo que separa o falar e o fazer. Essa constatação não significa dizer que a educação brasileira é uma espécie de terra arrasada. Longe disso. O Brasil passou por uma sequência de políticas de base lideradas pelo Ministério da Educação (MEC) a partir do ministro Paulo Renato (governos FHC) até o ministro Mendonça Filho (governo Michel Temer), com o devido destaque à gestão de Fernando Haddad (governos Lula 1 e 2). Precisou lidar com gestões erráticas e diversionistas entre 2019 e 2022, mas desde o início de 2023 tem um ministro (Camilo Santana) com reconhecida experiência e bons resultados – na rede municipal de Sobral e na rede estadual do Ceará. Graças aos pisos constitucionais e ao empenho de alguns gestores, o País ainda viu avançar seus patamares de investimento, inclusive na educação básica, que ainda padece ante a escolha nacional de dar, proporcionalmente, mais recursos para o ensino superior. Há boas experiências que se espalham pelo Brasil, entre exemplos no ensino integral, gestão escolar, qualidade da aprendizagem ou articulação entre Estados e municípios.
São, porém, uma soma de exceções, e não deixa de ser um espanto se resumirem a exceções, e não à regra, num país cujas lideranças políticas não hesitam em dizer, como fez o presidente Lula, que a educação é o passaporte mais confiável para o Brasil conquistar um lugar no futuro. O País continua ocupando algumas das piores posições em rankings globais de aprendizagem, a despeito de boas iniciativas entre os anos 1990, 2000 e 2010, e da preocupação da atual gestão do MEC com áreas como educação integral e alfabetização.
Agora se constata que, mesmo após mais de cem dias de atraso, o novo Plano Nacional de Educação (PNE) ainda precisa do aval da Casa Civil e do Ministério do Planejamento, atraso que faz com que ganhe força no Congresso a prorrogação das atuais metas até o fim de 2025. O atual PNE foi aprovado em 2014 depois de quatro anos de debates e vence no próximo dia 24 de junho. É composto por uma série de metas desde a educação básica até a pós-graduação, entre as quais universalizar a pré-escola e garantir pelo menos 25% das matrículas da educação básica em tempo integral. Das suas 20 metas, porém, apenas 4 foram parcialmente cumpridas. É muito pouco para um país que, no discurso de muitos, tem a educação como prioridade nacional. E um paradoxo que só alimenta o mesmo clamor e a mesma indignação que se repetem ao longo da história.
Comentario nosso
A qualidade do ensino brasileiro tem muito a desejar, e os nossos governantes, infelizmente, não têm feito muito para solucionar esse problema. Constroem muitas escolas, nesse aspecto houve avanço, muitas universidades, essa coisa toda. Mas a qualidade do ensino é que fica a desejar. Esse é o problema. Temos muitas promessas, mas poucas realizações nessa área. (LGLM)