A decisão trouxe alívio ao mercado, sobretudo depois do racha que marcou a reunião anterior do Copom. Em maio, por cinco votos a quatro, os diretores decidiram reduzir a Selic em 0,25 ponto porcentual (p.p). A divisão causou bastante ruído, uma vez que o placar opôs os membros mais antigos e os nomeados por Lula da Silva, que defendiam uma queda maior, de 0,50 p.p.
Dessa vez, a paz voltou a reinar no Copom. A conjuntura piorou tanto de um mês para o outro que não havia argumento técnico a justificar uma redução dos juros neste momento. No exterior, o cenário segue incerto e requer cautela. O Federal Reserve manteve, mais uma vez, os juros norte-americanos no intervalo entre 5,25% e 5,5%. É o nível mais elevado dos últimos 22 anos, o que, por si só, já atrai o capital que normalmente busca retornos mais altos em mercados emergentes, como o Brasil.
No País, a inflação desacelera a passos lentos, enquanto os núcleos, que captam a tendência geral dos preços e desconsideram choques temporários, se mantêm resilientes e acima da meta. As expectativas para o IPCA sobem há seis semanas consecutivas, segundo o Boletim Focus, e estão em 4% para este ano e 3,8% em 2025 – em ambos os casos, acima da meta de 3%.
São circunstâncias que não deixam espaço para invencionices. No comunicado, o BC deixou claro que a política monetária será mantida em patamar contracionista por “tempo suficiente” para consolidar “não apenas o processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”. Como nem uma coisa nem outra estão garantidas, a leitura dos investidores foi a de que o Copom descartou a possibilidade de uma nova queda na taxa de juros até 2025.
Por outro lado, o BC também reduziu as chances de um aumento da Selic ao citar não apenas um cenário de referência, no qual as projeções de inflação estão em 4% neste ano e em 3,4% em 2025, mas também um cenário alternativo, no qual as expectativas para este ano permanecem em 4% e as de 2025 caem a 3,1%, um nível bem mais próximo da meta. No cenário alternativo, do qual o Copom lança mão em momentos de tensão, a Selic é mantida em 10,5% ao longo do horizonte relevante, ou seja, durante todo o ano de 2025.
Nada disso foi suficiente para reduzir a pressão sobre o real, uma das moedas que mais perderam valor ante o dólar neste ano. O câmbio, que iniciou o ano cotado a R$ 4,85, ensaiou uma queda no início da sessão e chegou a abrir a R$ 5,38, mas fechou a R$ 5,46, maior valor desde 22 de julho de 2022, puxado pelas incertezas no exterior e pelas declarações do presidente Lula da Silva, que, por óbvio, lamentou a decisão do Copom.
A unidade demonstrada pelo Copom indicou que não haverá leniência no combate à inflação e, afinal, devolveu a responsabilidade pelas turbulências domésticas para Lula da Silva. É inegável que o governo, ao alterar as metas de 2025 e 2026, maculou a percepção do mercado sobre a credibilidade de sua política fiscal.
Com a devolução da medida provisória que limitava o uso de créditos do PIS/Cofins pelas empresas, o Congresso mostrou os limites da agenda de recomposição de receitas da equipe econômica e expôs o isolamento do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Até agora, no entanto, todas as alternativas para cortar despesas apresentadas pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, foram rejeitadas. E embora tenha dito que nenhuma medida está descartada, Lula repetiu, pela enésima vez, seu entendimento particular sobre gastos e investimentos e deixou claro que não fará qualquer ajuste que impacte os mais pobres.
Emparedar o Banco Central e atribuir toda a culpa pelos problemas do País a Roberto Campos Neto pode funcionar por alguns dias, mas o governo não poderá fugir do debate fiscal se quiser ver uma redução estrutural da taxa básica de juros.
Comentário nosso
O Banco Central está correto no seu papel de manter a independência para tomar decisões necessárias para o controle da política monetária. Lula quer bagunçar o correto, quer mandar e desmandar, inclusive, naquelas autarquias que deveriam ser independentes, como é o caso do Banco Central, como é o caso da Petrobrás. Isso é um erro, ele está fazendo o que é interessante para ele, o interessante para seu partido, sem ligar para o que é interessante para o país.