BC deixa Lula falando sozinho (confira comentário nosso)

By | 21/06/2024 5:45 am
Imagem ex-librisO Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) seguiu o roteiro esperado e interrompeu a trajetória de queda da taxa básica de juros. Em decisão unânime, a Selic foi mantida em 10,5% ao ano, e a pressão política exercida pelo presidente Lula da Silva foi solenemente ignorada.

A decisão trouxe alívio ao mercado, sobretudo depois do racha que marcou a reunião anterior do Copom. Em maio, por cinco votos a quatro, os diretores decidiram reduzir a Selic em 0,25 ponto porcentual (p.p). A divisão causou bastante ruído, uma vez que o placar opôs os membros mais antigos e os nomeados por Lula da Silva, que defendiam uma queda maior, de 0,50 p.p.

Dessa vez, a paz voltou a reinar no Copom. A conjuntura piorou tanto de um mês para o outro que não havia argumento técnico a justificar uma redução dos juros neste momento. No exterior, o cenário segue incerto e requer cautela. O Federal Reserve manteve, mais uma vez, os juros norte-americanos no intervalo entre 5,25% e 5,5%. É o nível mais elevado dos últimos 22 anos, o que, por si só, já atrai o capital que normalmente busca retornos mais altos em mercados emergentes, como o Brasil.

No País, a inflação desacelera a passos lentos, enquanto os núcleos, que captam a tendência geral dos preços e desconsideram choques temporários, se mantêm resilientes e acima da meta. As expectativas para o IPCA sobem há seis semanas consecutivas, segundo o Boletim Focus, e estão em 4% para este ano e 3,8% em 2025 – em ambos os casos, acima da meta de 3%.

São circunstâncias que não deixam espaço para invencionices. No comunicado, o BC deixou claro que a política monetária será mantida em patamar contracionista por “tempo suficiente” para consolidar “não apenas o processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”. Como nem uma coisa nem outra estão garantidas, a leitura dos investidores foi a de que o Copom descartou a possibilidade de uma nova queda na taxa de juros até 2025.

Por outro lado, o BC também reduziu as chances de um aumento da Selic ao citar não apenas um cenário de referência, no qual as projeções de inflação estão em 4% neste ano e em 3,4% em 2025, mas também um cenário alternativo, no qual as expectativas para este ano permanecem em 4% e as de 2025 caem a 3,1%, um nível bem mais próximo da meta. No cenário alternativo, do qual o Copom lança mão em momentos de tensão, a Selic é mantida em 10,5% ao longo do horizonte relevante, ou seja, durante todo o ano de 2025.

Nada disso foi suficiente para reduzir a pressão sobre o real, uma das moedas que mais perderam valor ante o dólar neste ano. O câmbio, que iniciou o ano cotado a R$ 4,85, ensaiou uma queda no início da sessão e chegou a abrir a R$ 5,38, mas fechou a R$ 5,46, maior valor desde 22 de julho de 2022, puxado pelas incertezas no exterior e pelas declarações do presidente Lula da Silva, que, por óbvio, lamentou a decisão do Copom.

A unidade demonstrada pelo Copom indicou que não haverá leniência no combate à inflação e, afinal, devolveu a responsabilidade pelas turbulências domésticas para Lula da Silva. É inegável que o governo, ao alterar as metas de 2025 e 2026, maculou a percepção do mercado sobre a credibilidade de sua política fiscal.

Com a devolução da medida provisória que limitava o uso de créditos do PIS/Cofins pelas empresas, o Congresso mostrou os limites da agenda de recomposição de receitas da equipe econômica e expôs o isolamento do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Até agora, no entanto, todas as alternativas para cortar despesas apresentadas pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, foram rejeitadas. E embora tenha dito que nenhuma medida está descartada, Lula repetiu, pela enésima vez, seu entendimento particular sobre gastos e investimentos e deixou claro que não fará qualquer ajuste que impacte os mais pobres.

Emparedar o Banco Central e atribuir toda a culpa pelos problemas do País a Roberto Campos Neto pode funcionar por alguns dias, mas o governo não poderá fugir do debate fiscal se quiser ver uma redução estrutural da taxa básica de juros.

Comentário nosso

O Banco Central está correto no seu papel de manter a independência para tomar decisões necessárias para o controle da política monetária. Lula quer bagunçar o correto, quer mandar e desmandar, inclusive, naquelas autarquias que deveriam ser independentes, como é o caso do Banco Central, como é o caso da Petrobrás. Isso é um erro, ele está fazendo o que é interessante para ele, o interessante para seu partido, sem ligar para o que é interessante para o país.

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Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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