Mais uma vez Lula desperdiçou uma providencial oportunidade de reconhecer o valor e o papel de Fernando Henrique Cardoso. Não haveria momento mais conveniente para tanto, a começar pelo aniversário do Plano Real, do qual FHC foi o principal arquiteto político, ao não só unir o mais impressionante time de economistas dispostos a debelar a hiperinflação, como também ter a sabedoria de que a boa técnica não prescinde da boa política. FHC negociou exaustivamente com um Congresso que conhecia por dentro e preferiu o uso público da razão à demagogia salvacionista. Mas, ao registrar o momento em suas redes, Lula optou por unir a imagem com FHC com o registro de outros três encontros: com o ex-presidente José Sarney, o escritor Raduan Nassar e o jornalista Mino Carta. Foi como se preferisse evitar dar a FHC o protagonismo que este merecia, sobretudo na semana comemorativa do Real. Ou como se não conseguisse superar o histórico e mal resolvido desconforto do PT com o Plano e seus artífices. E assim Lula mostrou seu verdadeiro tamanho, minúsculo perto de FHC.
Teria sido uma ótima oportunidade para um gesto de reconhecimento, por exemplo, ao apoio que FHC lhe deu no segundo turno da eleição presidencial de 2022. Naquele ano, mal iniciada a renhida disputa entre Lula e Jair Bolsonaro, o tucano não hesitou em anunciar: “Neste segundo turno, voto por uma história de luta pela democracia e inclusão social. Voto em Luiz Inácio Lula da Silva”. Ali FHC emprestava a Lula apoio incondicional em nome da democracia. Com seu apoio viriam outros, capazes de assegurar a frente ampla de que o petista precisava para superar Bolsonaro nas urnas e evitar o pior. Exceto por raros momentos de dor pessoal – como no caso da morte da ex-primeira-dama Ruth Cardoso – e pelo apoio dado na primeira eleição de FHC, como senador, em 1978, é difícil imaginar grandeza semelhante por parte do atual presidente.
O fato é que Lula e o PT nunca entenderam o Plano Real. Economistas do partido apostavam no fracasso do Plano, enquanto, no front político, com a campanha no horizonte daquele ano de 1994, os petistas só enxergavam interesses eleitorais rasteiros quando, na verdade, se estava diante de um divisor de águas na história nacional. Os eleitores perceberam o descompasso e garantiram a FHC a mais indiscutível vitória dada a um candidato a presidente. Inconformados, os morubixabas petistas lideraram uma inclemente oposição ao governo tucano. Uma oposição por vezes violenta, que passava tanto pela demonização do presidente quanto por uma espécie de novo udenismo, com a denúncia estridente do que diziam ser grandes “escândalos de corrupção”. Depois, quando assumiram o poder, os petistas acusaram FHC de lhes deixar uma “herança maldita”, expressão inventada por Lula que até hoje anima a militância e da qual o demiurgo nunca recuou, a despeito de sua flagrante injustiça.
Por isso, a visita de Lula a FHC e a imagem cheia de cordialidade entre ambos provam que FHC continua um estadista, capaz de superar as inúmeras grosserias que os petistas cometeram e ainda cometem contra ele. Já Lula mostrou que jamais será o estadista que julga ser.
Comentário nosso
Depois de votar em Lula nove ou dez vezes, estou decepcionado com o seu Governo até o presente momento. E sou obrigado a concordar com o editorial do Estadão. Lula, que poderia ser um estadista ao lado de Fernando Henrique Cardoso, virou um megalomaníaco, que acha que é o “rei da cocada preta”, que não erra e insiste em errar. Ele junto com o seu entorno, junto com o seu partido. Infelizmente, é essa, para mim, a realidade. Lula, ao invés de ser um estadista, é hoje um megalomaníaco. (LGLM)