A alarmante escalada do déficit da Previdência

By | 03/07/2024 9:48 am
Imagem ex-librisA receita da Seguridade Social no ano passado atingiu R$ 1,179 trilhão, o suficiente para cobrir apenas 73,3% da despesa total de R$ 1,6 trilhão do sistema de previdência e assistência social. O déficit de R$ 429 bilhões em 2023, revelado em estudo de pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com dados coletados da Receita Federal, mostra que é urgente repensar o sistema previdenciário. Ainda que em 2019 a Previdência tenha passado por sua mais ampla reformulação desde a Constituição de 1988, os números comprovam que não foi o bastante para garantir o financiamento futuro.

Os pesquisadores Rogério Nagamine Constanzi e Graziela Ansiliero, autores do trabalho que buscou estimar alíquotas capazes de custear a Previdência Social, recorreram à base de dados de órgãos do governo, pesquisas estatísticas e estudos de especialistas para concluir que a perspectiva – caso permaneça a situação atual – é que o déficit cresça ao longo do tempo, acompanhando o rápido envelhecimento da população.

O novo trabalho do Ipea corrobora, com precisão técnica inquestionável, a necessidade de um novo e profundo debate sobre a questão previdenciária. Há pouco mais de quatro anos, mudanças fundamentais para a manutenção do sistema, como a extinção da aposentadoria por tempo de contribuição, representaram avanço importante, mas não solucionaram os problemas de financiamento. Faz-se necessário, no atual contexto de discussão da reforma tributária, retomar um debate profundo para garantir a solvência previdenciária nas próximas décadas.

Lembrando que, num sistema previdenciário contributivo a receita é vinculada ao financiamento da despesa, Nagamini e Ansiliero chamaram a atenção para o fato de que o rombo do ano passado ocorreu, apesar do efeito do mecanismo de Desvinculação de Receitas da União (DRU), que permite ao governo federal usar livremente 30% de todos os tributos federais vinculados por lei a fundos ou despesas, o que incluía (supostos) excedentes de receitas vinculadas à seguridade social.

O acompanhamento dos economistas mostrou que, ao longo de 15 anos, a relação entre receita e despesa se deteriorou de forma consistente. Em 2008, as receitas representavam 111,8% das despesas assistenciais e de Previdência; em 2013, a arrecadação ainda era mais do que suficiente para os gastos, representando 102,8%, mas, daí para a frente, os déficits se sucederam até chegar aos pouco mais de 73% em 2023.

O estudo também apresenta dados restritos do regime previdenciário dos trabalhadores privados vinculados ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), e os resultados são ainda mais alarmantes: em 2000, a receita cobriu 84,7% da despesa total; em 2023, a arrecadação foi suficiente para custear apenas 65,9% do dispêndio. A receita do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) correspondeu a 5,5% do PIB no ano passado, exatamente a mesma proporção de 2009. Já a despesa, que era de 6,7% do PIB em 2009, aumentou para 8,3% em 2023.

Diante de números que revelam tamanha insustentabilidade do regime previdenciário, ações como a criação de uma força-tarefa do INSS para realizar 800 mil perícias e verificar se foram corretamente concedidos os benefícios por incapacidade e as aposentadorias a idosos de baixa renda e pessoas com deficiência, como anunciou o presidente do instituto, Alessandro Stefanutto, ao Estadão, assumem um caráter meramente paliativo. Embora a revisão periódica de benefícios seja uma medida importante para evitar fraudes e gastos desnecessários, a questão previdência é mais profunda e exige ação imediata.

Os pesquisadores do Ipea destacam, além da intensa mudança demográfica, transformações do mercado de trabalho, que criaram desequilíbrios adicionais na cobertura previdenciária, como o crescimento vertiginoso de Microempreendedores Individuais (MEIs), com tratamento subsidiado, e o aumento da informalidade. As alíquotas de contribuição propostas por eles são invariavelmente altas, ao redor dos 30%. Em tempos de debate sobre desoneração da folha de pagamentos, é uma discussão necessária.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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