(Luiz Gonzaga Lima de Morais, jornalista e advogado, publicado no Notícias da Manhã, da Espinharas FM, em 03/07/2024)
As festas juninas são uma das mais legítimas manifestações da cultura nordestina. Nós as herdamos da cultura portuguesa, mas aos poucos foram sendo esquecidas nas grandes metrópoles e se refugiando nas cidades menores, principalmente na região nordestina.
Os fogos, as fogueiras, as comidas típicas, as danças e principalmente a música nordestina, representada pelo forró pé-de-serra, davam vida às festas juninas.
Inicialmente assaltaram a música nordestina, infiltrando a música sertaneja, de caráter diferente da nossa música legítima. A música sertaneja faz mais sucesso nas camadas mais jovens e gera mais resultado financeiro. E as festas juninas das cidades maiores foram sendo invadidas pelos sertanejos.
Nos últimos três anos, baniram as fogueiras, sob alegação de que pioravam as doenças respiratórias, agravadas pela pandemia da COVID 19. Depois atacaram os fogos por agravarem a fumaça das fogueiras e incomodarem os autistas e os cães. Restam-nos apenas as comidas e as quadrilhas, estas mesmas descaracterizadas para torná-las mais espetaculosas.
Passada a pandemia, os deputados paraibanos tentaram resgatar as fogueiras, aprovando uma lei que as tornava permitidas novamente. O governador João Azevedo terminou por vetar o projeto, mesmo reconhecendo o prejuízo para a nossa cultura, alegando o prejuízo para o meio ambiente com a queima de madeira e os danos para saúde que a fumaça continuaria a provocar.
Não deixamos de reconhecer que esses danos existem, mas lamentamos o prejuízo que isso acarretará para uma das mais legítimas manifestações da cultura nordestina que representam o São João e o período junino como um todo.
Por amor ao São João e aos demais santos do período junino, sugerimos duas medidas que preservariam um pouco o caráter do período. Primeiro, que nas festas juninas se dê prioridade à legítima música nordestina. Segundo, que se torne possível a utilização de uma fogueira comunitária, que minimizaria os danos tanto para a saúde como para o meio ambiente, enquanto manteria um pouco da característica comunitária que as festas juninas sempre tiveram. As festas juninas sempre tiveram um caráter famíliar e comunitário. Nos sítios reuniam a redondeza em torno de uma fogueira e de um sanfoneiro. Nas cidades se reuniam familiares e amigos para festejarem os santos juninos ao redor de uma fogueira comunitária e um trio de forró. Há uns trinta anos os moradores da Deodoro da Fonseca faziam o São João da comunidade, com uma grande fogueira comum e um trio forrozeiro, assim como outras ruas ainda hoje o fazem. Em Santa Luzia cada família contrata um trio e junta parentes e amigos para comer, beber e dançar se preparando para a farra noturna no Palhoção.
A nossa sugestão é cada rua ou pedaço de rua fazer a sua fogueira, contratar um sanfoneiro e fazer a sua própria festa de São João, São Pedro e Santo Antônio. Seria uma forma de resgatar o caráter comunitário que as festas juninas sempre tiveram. E resgatar esta importante manifestação cultural do povo nordestino com nossa música, nossa comida, nossa bebida, nossas danças e nossa alegria.
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