O silêncio é de ouro

By | 04/07/2024 7:45 am

Para Lula da Silva, a economia vai bem, mas o mercado promove um ataque especulativo contra o real. O que ele ignora é que suas declarações não contribuem em nada para ajudar os mais pobres

 

Imagem ex-librisDemorou, mas as imprecações diárias do presidente Lula da Silva contra o mercado e o presidente do Banco Central (BC) começaram a gerar incômodo até mesmo entre seus aliados. Antes tarde do que nunca, uma vez que é questão de tempo para que o efeito das cotações do dólar chegue à economia real.

Reunido com economistas no fim de semana, Lula da Silva parece finalmente ter assimilado a informação. Ontem, durante o lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar, questionado sobre se achava que o Banco Central deveria intervir no câmbio para conter a desvalorização do real, o presidente respondeu que falaria apenas sobre arroz e feijão.

O comedimento de Lula da Silva trouxe algum alívio nas cotações do dólar, mas seria ingenuidade acreditar que ele tenha se convencido de que suas declarações contra a autonomia do BC e a responsabilidade fiscal foram um erro.

Afinal, não se pode esquecer que, no dia anterior, Lula da Silva havia sugerido que o governo faria “algo” para conter a desvalorização da moeda – frase que levou o d lar ao maior valor desde janeiro de 2022.

Sem que Lula esclarecesse o que quis dizer com isso, o mercado passou a aventar a possibilidade de que o presidente adotaria medidas de controle de capitais, como a alteração do IOF que incide sobre operações cambiais. Por mais absurda que a ideia pareça, ela ainda é mais factível que a possibilidade de o governo cortar despesas ou propor reformas estruturais, que é o que de fato teria efeito benéfico sobre o câmbio.

Mas a subida do dólar foi tão intensa que finalmente acendeu um alerta no governo sobre seus impactos na inflação. Não é segredo para ninguém que as cotações do dólar afetam os preços de maneira geral, sobretudo o de insumos importados.

Basta analisar a balança comercial para perceber o estrago que o câmbio pode causar nos itens que lideram as importações brasileiras, como combustíveis, adubos, fertilizantes químicos, produtos manufaturados, máquinas e equipamentos, semicondutores, autopeças e trigo, entre outros.

Talvez o presidente precise ser lembrado de que o País ainda precisa adquirir gasolina e diesel no exterior para abastecer o mercado interno. Se a situação ainda não piorou, é somente porque a patriótica Petrobras decidiu “abrasileirar” os preços em maio do ano passado e não autorizou nenhum reajuste na gasolina e no diesel neste ano, o que tem ajudado a segurar a inflação.

Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a Petrobras teria de elevar a gasolina em R$ 0,67 por litro e o diesel, em R$ 0,73 por litro, para equiparar os preços aos praticados no exterior. Enquanto o dólar não recua, a companhia tem de arcar sozinha com essa diferença, que, no passado recente, gerou perdas bilionárias e por muito pouco não levou a companhia à ruína.

Os efeitos do aumento de preços no agronegócio e na indústria, por óbvio, chegam também ao comércio e aos serviços, ainda que com alguma defasagem. Não por acaso, parte do mercado já não descarta mais a necessidade de um novo aumento da taxa básica de juros ainda neste ano. Embora a Selic esteja em 10,5%, a curva de juros futuros projeta que ela terá de ser elevada.

Para Lula da Silva, a economia vai bem, mas o mercado realiza um ataque especulativo contra a moeda brasileira. O que ele ignora é que suas declarações não contribuem em nada para ajudar os mais pobres, que são os mais prejudicados pelo aumento da inflação.

O mercado, de certa forma, colabora para turvar a percepção do governo sobre a conjuntura macroeconômica – que, sob o ponto de vista do Executivo, não justifica tamanha desvalorização da moeda. O arcabouço fiscal, afinal, sempre teve como foco a ampliação de receitas, não é de hoje que o governo não tem maioria no Congresso para fazer sua agenda avançar, e Lula da Silva sempre demonstrou enorme resistência a medidas de redução de despesas.

Quem acreditou que o governo teria algum juízo e faria diferente o fez por pura fé. Lula da Silva, no entanto, ajudaria muito se ao menos ficasse quieto e deixasse de jogar mais lenha na fogueira. Sabe-se, no entanto, que seu silêncio é temporário.

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Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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