(Luiz Gonzaga Lima de Morais, jornalista e advogado, publicado no Notícias da Manhã, da Espinharas FM, em 08/07/2024)
Há alguns anos atrás, quando ainda tinha coragem de subir na Pedra do Tem Dó, fiquei escandalizado com a visão que tive, lá de cima, do processo de desertificação da região que era possivel ver na região do entorno.
A desertificação do semi-árido se deve a dois fatores principais, à destruição da caatinga e às mudanças climáticas. E uma leva à outra. A destruição da caatinga agrava as mudanças climáticas.
Quem convive com os moradores da zona rural de nossa região, sabe que o nosso agricultor praticamente abandonou a agricultura e vive na sua maioria do bolsa familia, reforçada com a venda de lenha e a produção e venda de carvão. Duas atividades que só agravam a desertificação. Como não há reposição da caatinga, o deserto se alarga a cada dia. A falta de vegetação torna as chuvas mais escassas o que mantém o circulo vicioso. Menos chuva menos vegetação, menos vegetação menos chuva.
A única saída seriam programas intensos de reposição da caatinga, mas nenhum dos niveis de governo se preocupa em providenciar programas neste sentido. O Governo Federal poderia ao invés de bolsa-família, na zona rural, financiar programas para reposição da caatinga, mas a indole do brasileiro, ao invés de o fazer participar desta tentativa de recuperação ia fazê-lo se mudar para as cidades para sobreviver, mesmo que em piores condições, do bolsa familia. Afinal, o que mais deseja o cidadão comum é fugir do trabalho. É o que constatamos no dia a dia. Muita gente prefere sobreviver do bolsa familia a assumir qualquer forma de trabalho. Isto a gente constata, tanto na zona rural, como nas cidades.
Quem quiser ter a prova, compre uma granjazinha na zona rural e procure um caseiro. Ou na cidade procure uma doméstica que aceite trabalhar de carteira assinada. Quando se lhe oferece um trabalho vão logo advertindo que não querem ter a carteira assinada, para não perderem o bolsa família.
A professora Maria do Carmo Learth Cunha , do Cursos de Engenharia Florestal da UFCG, tem mostrado em entrevistas e trabalhos a gravidade da situação não só na nossa região, como em todo o semi-árido e evidenciado a necessidade de serem tomadas medidas urgentes para corrigir a situação, antes que se torne inreversível. Não podemos deixar como herança para nossos filhos e netos, um deserto muito maior do que o que recebemos de nossos ancestrais.
Quem quiser ver a situação de desertificação do semiárido dê uma passeio nas zonas rurais que frequentou no seu tempo de menino, para ver a situação em que vai encontrar a terra que frequentou nos velhos tempos. É uma tristeza. E é urgente tentarmos reverter esta situação antes que o semiárido se torne irrecuperável.
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