O atrevimento de uma estudante (confira comentário nosso)

By | 13/07/2024 8:16 am
Imagem ex-libris“Depois de muita luta e 14 anos de espera, finalmente estamos presenciando a inauguração oficial de apenas metade do novo câmpus”, alertou a aluna Jamily Fernandes Assis, de 19 anos, do curso de Direito da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), no mesmo palanque onde estavam, entre outros, o presidente Lula da Silva, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o ministro da Educação, Camilo Santana. Sublinhe-se o “apenas metade” dito pela aluna. Sua fala corajosa, tendo ao lado um abúlico presidente, escancarou o viço dos governos brasileiros e, em especial, o modo lulopetista de governar: a prioridade está nos anúncios de obras e promessas de recursos, preferencialmente exibidos com eventos grandiosos, cifras exuberantes, plateias providencialmente escolhidas e discursos eloquentes das autoridades.

Segundo tal lógica, o dia seguinte é um mero detalhe. Para Lula e o PT, fica desde já dispensada a apresentação de projetos detalhados, cronograma de entregas e desembolsos e – premissa ainda mais distante – um plano de gestão eficiente para fazer da obra anunciada uma realidade capaz de efetivamente beneficiar a comunidade. Anos atrás, a Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha foi inaugurada por Lula sem ter corpo docente; a do ABC começou a funcionar em meio a um canteiro de obras atrasadas e abriu seu primeiro processo seletivo sem dispor sequer de laboratórios e de bibliotecas. Foram consequências inevitáveis do voluntarismo lulopetista, que resolveu fazer um esforço desmedido de expansão da rede federal de ensino superior sem pensar no óbvio – instalações precisam ser mantidas e universidades não existem pelo impulso das edificações: requerem pessoas, recursos e gestão.

O caso da Unifesp em Osasco, um exemplo memorável do mau uso do direito de fazer promessas, é parte do mesmo enredo. A construção da unidade inaugurada agora – pela metade, não é demais lembrar – foi prometida por Lula ainda em 2008, durante o seu segundo mandato, com o lançamento da pedra fundamental no terreno que abrigaria o câmpus. As promessas de expansão, no entanto, esbarraram em restrições de estrutura e atrasos nas obras. Resultado: os cursos do câmpus Quitaúna, no bairro de Osasco, começaram a funcionar em 2011, num prédio cedido pela prefeitura da cidade. Somente em 2016 o contrato para as obras seria assinado, com prazo previsto de 18 meses para a construção. Acabou durando oito anos, depois de consumir mais de R$ 100 milhões.

Nesta semana ficaram prontos os edifícios acadêmico e administrativo da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios de Quitaúna. Mas, como tratou de alertar a aluna Jamily Fernandes Assis no discurso ao lado de Lula, “é necessário reforçar que as obras do câmpus não estão completas” e “ainda nos faltam o auditório, o prédio da biblioteca, a quadra e os anfiteatros”. A biblioteca, por exemplo, teve sua construção iniciada no ano passado e só deve ficar pronta em 2025. A aluna reclamou também de um problema habitual que integra a rotina das universidades brasileiras – o número insuficiente de moradias para estudantes.

Em vez de, humildemente, reconhecer que uma universidade sem biblioteca não é universidade, o ministro Fernando Haddad preferiu dar um pito na atrevida estudante de 19 anos. “Uma universidade não é um prédio. Uma universidade é uma obra que não tem fim. Até hoje, a Universidade de São Paulo (USP), que foi lançada em 1934, está inaugurando novos prédios. Isso aqui não tem fim, isso aqui é um começo”, discursou Haddad. Ora, tratar a precariedade de um câmpus entregue pela metade como se fosse a modernização contínua da USP é ofender a inteligência alheia, e certamente a estudante Jamily, bem como seus colegas, sabe diferenciar uma coisa da outra.

Já Lula fez o que mais sabe fazer: transferiu responsabilidades e apontou os culpados de sempre – os outros. O presidente creditou a demora das obras em Osasco a “irresponsabilidades” e “falta de vontade” de outros presidentes, provavelmente esquecendo que sua aliada Dilma Rousseff governou o Brasil durante quase seis anos após lhe suceder e deixou um estrago infinitamente maior do que uma obra inacabada.

Comentário nosso

A imprensa não inventa. A imprensa só divulga os fatos e os comenta. Em São Paulo foi necessário a presença de uma estudante, na festa de inauguração mostrar que o presidente Lula estava inaugurando uma obra que se arrasta há oito anos e que ainda não terminou.  E a moda já pegou. Em Patos, o prefeito Nabor Wanderley que tenta se reeleger, inaugurou uma obra que também não terminou, e os “puxa-sacos” só fizeram aplaudir. “E o cordão dos puxa-sacos cada vez avança mais!” (LGLM)

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Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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