Presidente voltou a dizer que não está seguro de que o País precisa de ajuste nas contas, de olho na aprovação imediata da população
Governantes muitas vezes são inseguros e viciados em aplausos. Mesmo sendo temidos, dói para os poderosos não serem amados. O problema, para nós mortais, é quando eles começam a tomar medidas em busca da aprovação imediata mesmo que ao custo do futuro do País. O presidente Lula oscila entre buscar esse caminho arriscado ou manter uma responsabilidade precária.
Uma evidência disso é que Lula voltou a dizer que não está seguro se o país precisa de ajustes nas contas, não sabe se precisa cortar gastos. Talvez esteja convencido de que seus ataques recentes ao presidente do Banco Central e às taxas de juros o fizeram crescer uns três ou quatro pontos percentuais de popularidade, que seria seu principal objetivo.
Porém, essa pequena glória de Lula tem preço. Suas falas contra o mercado fizeram subir os juros futuros, aumentar a cotação do dólar, que rebate na inflação, sobretudo no preço dos alimentos – processo que, no final, prejudica a população e o próprio governo. Ou seja, para receber elogios de mais gente no dia de hoje, o presidente afetou negativamente todos no médio e longo-prazo, inclusive ele próprio. Vai entender.
Mas, para quem está perturbado com popularidade, como talvez seja o caso do inquilino do gabinete presidencial do terceiro andar do Palácio do Planalto, há duas más notícias. A primeira, já sabida, é que a sociedade está calcificada e milhões irão se opor ao governo não importa a qualidade das suas entregas. É um fenômeno ideológico mundial.
Outra é que, se você compara os gráficos de popularidade com as cotações das commodities ao longo das últimas três décadas, poderá perceber que a aprovação de governantes latino-americanos têm mais a ver com o preço das matérias-primas produzidas nos países do que suas ações internas. Lula cravou seus quase 90% de popularidade no boom da venda de produtos como soja e minério de ferro. O mesmo ocorria com Chávez e o petróleo venezuelano. Eram muitos recursos entrando no caixa.
Fazer o que precisa ser feito em geral, talvez na maioria das vezes, é impopular. Por exemplo, em um país em que cada vez mais os casais têm menos filhos e os idosos vivem por mais tempo, é imperioso promover uma reforma da Previdência, questão de aritmética e redistribuição. Da mesma maneira, a partir do momento em que as regras de proteção trabalhistas começam a prejudicar a geração de empregos, é preciso alterar a legislação, mesmo com a oposição da sociedade. Estadistas agem assim. Populistas fogem disso.
Um país em que os gastos do Estado crescem de maneira mais veloz do que a arrecadação tem poucas saídas. Ou diminui a gastança ou taxa mais a sociedade, ambas medidas impopulares. Aliás, pela primeira vez na história da humanidade um governo se preocupou tanto com a enxurrada de memes bem-humorados sobre a obsessão necessária do ministro da Fazenda Fernando Haddad em buscar recursos. Orquestrado ou não, impreciso ou não, mal-intencionado ou não, bom humor deveria ser combatido com bom humor, não com resmungos, coisa de quem sabe que perdeu a batalha.
A questão também é que nunca o Partido dos Trabalhadores apoiou medidas de outros governo quando essas se revelavam impopulares – mesmo que necessárias. Colocava toda sua artilharia para atacar o governante de plantão. Aliás, Bolsonaro tem feito a mesma coisa. Pobres dos tucanos que, na política de “apoiar o que é bom e de se opor ao que é ruim”, quase sumiram do mapa. Política infelizmente tem algo de preto no branco, de não ser sutil, Trump que o diga.