A ameaça à segurança pública do País feita pelos oficiais das PMs com ligações políticas (confira comentário nosso)

By | 31/07/2024 2:00 pm

Uma praga se alastra pelo Brasil e atinge indistintamente as polícias: a invasão da política partidária

(Marcelo Godoy, no Estadão, em 30/07/2024)

 

Foto do author Marcelo GodoyEra abril de 1994. O coronel Luiz Perine mandou prender 14 oficiais do batalhão do Guarujá. A turma havia montado uma escala de serviço paralela, e os PMs deviam trabalhar fardados como “fiscais de praia”, em troca do dinheiro de empresários espertalhões. Perine é uma lenda da Corregedoria da PM. Tem no seu currículo o raro fato de ter posto em cana um coronel.
Sede da Corregedoria da PM de São Paulo, que leva o nome de seu primeiro comandante, o coronel Luiz Perine
Sede da Corregedoria da PM de São Paulo, que leva o nome de seu primeiro comandante, o coronel Luiz Perine Foto: DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO

A PM tinha como comandante Francisco Profício: ele concordou com a decisão de recolher o batalhão inteiro. A falta que fazem oficiais como eles nas polícias ajuda a explicar a atual situação da segurança pública no País.

Perine era discreto. E inteligente. Adorava pescar no Pantanal. Morava a maior parte do tempo na sede da corregedoria e – conta um antigo subordinado – não dispensava uma espingarda calibre 12 nas suas andanças. Profício organizou o Centro de Inteligência da PM. Eram avessos à política no quartel.

Recentemente, o coronel Fábio do Amaral, o corregedor da PM, publicou uma mensagem em grupo de WhatsApp sobre Guilherme Boulos, candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo: “Ele não!”. Profício e Perine tinham alergia à esquerda, mas nunca fizeram política partidária. É o corregedor quem deve coibir esses casos. O que fará se um sargento publicar: “Nunes não!”? O prefeito é o candidato do governador Tarcísio. Como punir um e esquecer o coronel?

Uma praga se alastra pelo País e atinge indistintamente as polícias: a invasão da política partidária. Nos Estados governados pelo PT a situação não é diferente. A Bahia de Rui Costa conheceu uma explosão de afagos à PM – uma major foi a candidata petista a prefeito de Salvador. No Ceará de Camilo Santana havia 189 oficiais emprestados para outros órgãos em 2022. E isso enquanto a letalidade policial explode nos Estados.

Trecho denúncia contra policiais da Rota afirma que morador foi morto sem chance de defesa.
Trecho denúncia contra policiais da Rota afirma que morador foi morto sem chance de defesa. Foto: Reprodução/processo judicial

coronel José Vicente da Silva lembra um sintoma desse mal: as promoções por merecimento privilegiam oficiais distantes do policiamento territorial. Apenas 20% dos promovidos são de homens dessas unidades. Há oficiais que saem da academia e vão trabalhar em gabinetes de apadrinhados. E por lá ficam, ascendendo na hierarquia.

E, assim, a disciplina vai para o beleléu. E com ela o profissionalismo e a proteção da sociedade, substituídos pela defesa de interesses pessoais. Quando a busca de votos faz o comando proteger PMs acusados de assassinato, achando que o crime organizado se combate à bala, são as facções que comemoram.

Os chefões do PCC não estão mais nas favelas, mas em coberturas de luxo e dirigem Lamborghini e Ferrari. A turma do bangue-bangue da PM não sabe? Houve um tempo em que o corregedor prendia até coronel. Quando falta o exemplo, a tropa se espelha em quem?

Comentário nosso

Não tem nada a ver, mas Marcelo Godoy é um jornalista investigativo autor de dois livros importantes sobre a atuação dos militares durnte a ditadura e até muito depois. O mais recente está sendo lançado amanhã em São Paulo. Os dois livros têm preço salgado e ainda não tive coragem de comprar. O que vai ser lançado amanha teve a seguinte resenha no Amazon:

Sessenta anos depois do golpe, os segredos e mentiras que marcaram a Ditadura Militar continuam a assombrar a democracia brasileira. Revelar os esqueletos escondidos nos porões é uma missão que Marcelo Godoy vem cumprindo com talento, coragem e precisão. Em 2014, publicou o clássico “A Casa da Vovó: uma biografia do DOI-Codi”, com relatos inéditos de policiais e militares que atuaram nos centros de torturas e assassinatos do regime.

Dez anos depois, ele volta com uma história ainda mais surpreendente. “Cachorros” descreve a saga do agente Vinícius, nome de guerra de Severino Deodoro de Mello, militante histórico do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que se tornou o mais importante espião cooptado pela inteligência militar nos anos de chumbo. Mello contribuiu para dezenas de sequestros, mortes, prisões e desaparecimentos que ajudaram a neutralizar o PCB nos anos 1970.

Dessa forma, os militares pretendiam controlar o processo de abertura democrática sem a ameaça de um partido comunista organizado. Godoy junta neste livro o rigor do historiador, respaldado em documentos e pesquisas feitas em arquivos de cinco países, com a capacidade jornalística de narrar histórias envolventes, que ainda não foram contadas.

Bruno Paes Manso” (LGLM)

 

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Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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