Dino manda acabar com orçamento secreto após Congresso e governo esculacharem o STF

By | 03/08/2024 5:10 am

Supremo cumpre sua função elementar. A questão é se os outros Poderes obedecerão desta vez

(Carlos Andreazza, no Estadão, em 02/08/2024)

Foto do(a) colunaÉ muito bom – nostálgico – quando o Supremo exerce o controle de constitucionalidade. Foi o que fez Flavio Dino sobre o orçamento secreto. Emocionante. Histórico. Lembrados nós de que há movimento no STF para além dos convescotes político-empresariais e da gestão xandônica de inquéritos onipresentes e infinitos.

Assim estamos; a celebrar que tribunal cumpra eventualmente a sua função elementar. Cumpriu. A ver se pega. Os donos do Congresso já resolveram não obedecer uma vez – nem a lista completa dos padrinhos de emendas do relator apresentaram. O ministro mandou mostrar. Mostrarão? Liberados ainda restos a pagar dos tempos do sete-peles. Cessará a prática?

O orçamento secreto – minando os princípios da administração pública – dilapida a República em várias frentes: sua engenharia precisa de planejamento inexistente e de opacidade absoluta; e sua atividade promove desigualdade político-eleitoral e as condições ideais à corrupção.

Flávio Dino ordenou que Legislativo e Executivo deem transparência a emendas e acabem com orçamento secreto
Flávio Dino ordenou que Legislativo e Executivo deem transparência a emendas e acabem com orçamento secreto Foto: Wilton Junior/Estadão

Consiste na privatização autoritária, para distribuição sem transparência, de dinheiros públicos. Motor dessa espécie de parlamentarismo orçamentário, em que o primeiro-ministro exerce o poder advindo de controlar o cofre sem ser responsabilizado pela manipulação espúria do tesouro. Um imperador.

Dino não veio para conciliar, embora chamasse às partes a uma audiência de conciliação. Avança-se já para dois anos de afronta autoritária ao artigo 37 da Constituição. Quase dois anos desde que um acordo entre Parlamento e governo Lula formalizou a burla à decisão do STF – que interditara o uso pervertido das emendas do relator – e assegurou a continuação do esquema iniciado sob Bolsonaro.

Fingir não ver é forma brasileira de conciliação. Deu nas emendas Pix, a quarta geração do bicho.

Ao dizer que o objetivo do encontro era o fim prático do orçamento secreto, o ministro admitiu que a Corte constitucional fora esculachada longamente. Daí ter aplicado a “continuidade normativa” para determinar que a decisão do STF sobre o uso viciado da emenda do relator, de dezembro de 2022, tivesse finalmente efeito sobre quaisquer outras modalidades do orçamento secreto. A superfície explorada hoje, a fachada atual, é a da emenda de comissão.

“Ah! Mas Dino favorece Lula.” Não importa que o conjunto de providências para fazer parar o sistema resulte, como consequência, em benefício ao governo e prejuízo aos planos de Lira etc., se prejudicado vai projeto dependente da gestão devassa de fundos orçamentários. O certo é o certo.

Se o expediente é inconstitucional, o Supremo – provocado – tem de agir. Chama-se – lembra? – controle de constitucionalidade. Por onde andava você? Saudade. Veio para ficar?

Foto do autor
Carlos Andreazza foi colunista do jornal O Globo e âncora da Rádio CBN Rio, além de ter colaborado com a Rádio BandNews e com o Grupo Jovem Pan. Formado em jornalismo pela PUC-Rio, escreve no Estadão às segundas e sextas.
Comentário nosso – Num país de tantas imoralidades, ao lado do Fundo Partidário, o orçamento secreto talvez sejam os maiores. Flávio Dino prolata uma decisão que pode ser o início de uma devassa nas imoralidades ditadas pelo Congresso. Não sabemos, como diz o articulista Carlos Andreazza é se Dino e o STF vão ser obedecidos. Se ainda tem jeito para recuperar a moralidade neste país. (LGLM)

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Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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