Não se desenvolve um país em que o Orçamento destina mais dinheiro para as emendas parlamentares, com ações de baixo impacto e eficiência, do que para investimentos federais
Os investimentos federais em projetos estruturais previstos no Orçamento recuam, há anos, ao mesmo tempo que as emendas parlamentares avançam. Decisões políticas do governo lulopetista parecem, ainda, ignorar a realidade orçamentária ao subestimar despesas como os benefícios sociais, amarrados ao salário mínimo que sobe acima da inflação. Tem-se o estrangulamento progressivo do Orçamento, com redução de controle sobre os recursos e o consequente risco de paralisia.
Enquanto isso, os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet, vão enfrentando os desafios de reafirmar algum compromisso com a responsabilidade fiscal. Depois de muitas bravatas de Lula em defesa de sua fúria perdulária, R$ 15 bilhões foram congelados. A equipe econômica age assim para não estourar o limite de despesas e cumprir a meta fiscal deste ano, com o objetivo de equilibrar gastos e receitas.
Para que a meta fiscal seja alcançada, mesmo aquém da promessa de zerar o déficit – há previsão de rombo de R$ 28,8 bilhões dentro do limite do arcabouço fiscal –, sacrifícios se impõem a toda a Esplanada. Saúde, Cidades, Transportes e Educação são as pastas mais afetadas, o que expõe o drama e o impacto da tesourada. Mas nem mesmo a escassez de dinheiro público, ao que tudo indica, será capaz de impedir que a execução de emendas parlamentares atinja um novo recorde.
Essas verbas chegarão a R$ 47,9 bilhões em 2024, apesar do congelamento de R$ 1,1 bilhão das emendas de comissão, que não são impositivas, e de R$ 153,6 milhões das emendas de bancada, que em algum momento terão de ser liberadas. Do total, o governo já empenhou R$ 37,5 bilhões antes do período restritivo imposto pela lei eleitoral. Essa decisão que afagou o Congresso, com o qual Lula convive de maneira errática, poupou deputados e senadores de darem uma cota maior de contribuição com o País nesse acerto das contas públicas, ao passo que diminuiu a capacidade de planejamento do Executivo e drenou os recursos discricionários de cada um dos ministérios.
Com isso, a reserva de R$ 54,8 bilhões de investimentos sob o controle do governo federal previsto no Orçamento deste ano, em razão da contenção nos gastos, vai encolher. Só na vitrine do lulopetismo, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), são R$ 4,5 bilhões congelados. E o volume bilionário destinado a deputados e senadores, como se os parlamentares fossem centenas de ministérios com dotação orçamentária própria e pulverizada, preocupa. Como afirmou ao Estadão o economista Felipe Salto, não tem sentido a rubrica das emendas superar a de investimentos do Executivo, “que pela Constituição tem a iniciativa do Orçamento”. A ordem recente do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), que exige transparência nas emendas, pode frear a liberação de recursos, mas a ver se será cumprida.
O instrumento das emendas parlamentares faz parte das regras democráticas, mas, quando fora de controle e usado sem qualquer transparência – como ocorrem com as emendas “Pix” que abastecem cofres de municípios e Estados, sem um projeto e uma destinação específica do dinheiro público, e os restos ainda a pagar do orçamento secreto, ambas práticas reveladas pelo Estadão –, tende a desequilibrar as relações de força entre os Poderes, mas o Executivo tampouco pode atribuir-se um papel de vítima nesse jogo. Esse consórcio do governo com o Congresso na liberação de emendas desnuda como escolhas políticas atravancam o crescimento do País e expõe a falta de um projeto que vá além do horizonte eleitoral e dos interesses paroquiais.
Comentário nosso
Você pode pensar que tanto faz o dinheiro gasto pelo governo como o dinheiro das emendas parlamentares que vai ser gasto pelos prefeitos. Pode haver uma diferença muito grande quando se trata de um governo que age como administrador. O dinheiro será aplicado onde for mais necessário, com resultados mais positivos para a coletividade. Já o dinheiro das emendas parlamentars, ninguém sabe quanto será aplicado para melhorar a vida do povo, pois servirá antes de tudo à política. Os deputados mandarão o dinheiro não para onde é mais necessário, mas para o prefeito que pode lher dar mais votos. E muitas vezes este dinheiro nem será bem aplicado. Quantas vezes o prefeito gasta dinheiro em festas e shows, enquanto o povo passa fome, tem sede ou está doente. E o pior, quantas vezes, grande parte deste dinheiro é desviado. E por fim. É mais fácil fiscalizar como o dinheiros dos governos federais e estaduais é utilizado, como fiscalizar como os prefeitos gastam o dinheiro que recebem. Com tanto prefeito desonesto e tanto vereador imprestável. (LGLM)