O recado significa muito para um colegiado que há pouquíssimo tempo rachou entre os membros indicados antes e depois do governo Lula da Silva. A divisão fortaleceu as apostas de que o próximo presidente do BC, a ser escolhido pelo presidente, poderia vir a adotar uma atitude mais leniente no combate à inflação.
A ata, ao contrário, mostrou um Banco Central unido. Todos os integrantes acreditam que é mais provável que a inflação suba do que caia, e parte dos membros ressaltou que o balanço de riscos, de fato, está assimétrico, com mais fatores a pressionar os preços para cima do que para baixo.
Mas, quando a última reunião ocorreu, na terça e quarta-feira passadas, o BC ainda não imaginava que os mercados entrariam em pânico nesta semana, preocupados com a possibilidade de que a economia dos Estados Unidos desacelerasse e até entrasse em recessão.
Horas antes do anúncio do Copom, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) havia mantido os juros entre 5,25% e 5,50% ao ano, mas o presidente da instituição, Jerome Powell, sinalizou que as taxas poderiam cair já na próxima reunião, em setembro. Na sexta, no entanto, a divulgação de dados fracos sobre a geração de empregos nos EUA, muito piores que o esperado, foi o suficiente para azedar o clima de vez.
Já na madrugada da última segunda-feira, a Bolsa de Valores do Japão caiu 12% e registrou seu pior dia em quase 40 anos. Para piorar, o Banco do Japão havia elevado a taxa de juros para 0,25% na semana anterior, abandonando uma política de juros negativos que perdurou por anos.
A decisão reduziu a atratividade do mercado brasileiro, que se beneficiava dos recursos de investidores que apostavam no diferencial de juros entre os países. No Brasil, o dólar chegou a bater em R$ 5,86, mas recuou a R$ 5,73 no fechamento do dia. Na terça, a moeda voltou a cair ante o real, para alívio do governo, que vê nesse aspecto da crise uma oportunidade de que as pressões sobre a inflação também sejam reduzidas.
Não passou despercebido por ninguém a ênfase que o comunicado do BC deu à desvalorização do câmbio na semana passada. Na ata, embora tenha reconhecido que essa tendência afeta outras economias emergentes em todo o mundo, a autoridade monetária sublinhou que esse movimento, se persistir, pode ser relevante a ponto de ser incorporado no cenário avaliado pelo Copom para a tomada de suas decisões.
Em contrapartida, um câmbio mais comportado, mesmo que por motivos externos, pode reduzir as pressões inflacionárias. Isso, em tese, facilitaria o trabalho do Banco Central e, eventualmente, reduziria as chances de materialização de um cenário no qual o Copom se veja obrigado a elevar os juros.
Ainda que o câmbio contribua para reduzir a inflação, dados mais recentes sobre desemprego e produção industrial indicam uma economia aquecida. E nada disso resolve o problema da política fiscal, que também teve destaque na ata.
Além de alertar sobre a percepção dos agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço, o BC aproveitou a ata para reiterar a importância de uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida para tornar a ancorar as expectativas e reduzir prêmios de risco de ativos financeiros.
A maioria dos analistas ainda acredita que os juros não terão de subir até o fim do ano, mas o fato de o BC ter deixado esta possibilidade em aberto reforçou sua credibilidade em um momento politicamente sensível, às vésperas da troca do comando da instituição financeira.