Parlamentares agora reivindicam direito adquirido sobre orçamento secreto (confira comentário nosso)

By | 10/08/2024 11:20 am

Relator do Orçamento falou que só se perde essa conquista “sob lança nas costas”

 

(Carlos Andreazza, no Estadão, em 09/08/2024)

Foto do author Carlos AndreazzaFlavio Dino decidiu – com atraso – tomar providências contra o orçamento secreto e seu mais sofisticado desenvolvimento, a emenda Pix. Os imperadores do Congresso não gostaram. O poder anômalo de Arthur LiraDavi Alcolumbre e seus elmares deriva da forma opaca e autoritária como dispõem de fundos orçamentários.

Natural que reagissem. Em várias frentes. Numa delas, o presidente da Comissão Mista de Orçamento, Júlio Arcoverde, informou que não votará a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2025 neste agosto. Só depois das eleições. Arcoverde é do PP do Piauí. É Lira e Ciro Nogueira.

Congresso Nacional
Congresso Nacional  Foto: Roque de Sv8/Agencia Senado

O governo tem de enviar a proposta de Lei Orçamentária até 31 de agosto. Tudo o mais constante o fará sem as balizas da LDO. Não se trata apenas de retaliação a Lula – que os donos do Parlamento consideram manobrar por meio de Dino.

Retalia-se a constituição do Orçamento da União, donde o planejamento estatal, de modo a ganhar tempo; para que se possa formular-negociar de que maneira será novamente burlada uma determinação do Supremo sobre o orçamento secreto.

O Congresso não abrirá mão do controle dos dinheiros. A vir nova superfície para abrigar o dínamo.

Na melhor hipótese para o Lirão, cria-se a já aventada emenda dos líderes de bancada – a ser o paraíso dos proprietários de partidos, o estado da arte para a engenharia de apropriação patrimonialista de fundos orçamentários contra a eficiência nos gastos públicos e a igualdade em disputas eleitorais. Na pior, deposita-se boa parte dos bilhões sob as emendas individuais e se estabelece o tal calendário para amarrar os pagamentos ao relógio paroquial da vereança federal.

O sindicalista Arcoverde é transparente: “Não se pode perder nenhum direito adquirido de nenhum parlamentar em relação às emendas”. Direito adquirido, minha gente! O deputado tratando o assalto a uma penca de princípios constitucionais como se garantia definitivamente incorporada ao patrimônio político dos parlamentares; como se o ministro Dino lhes tivesse confiscado a poupança-previdência.

E não é?

Mais: “Transparência dá até para discutir sempre”. A concessão que nos faz, disposto a admitir alguma transparência, decerto crente na existência de meia transparência. Quem sabe aceite dar objeto às emendas Pix? Pai Lira já deu a letra.

A letra do senador Ângelo Coronel, relator-geral do próximo Orçamento e guerreiro do povo legislador: “Conquistas terminam virando cláusulas pétreas.”

O ousado trata como cláusula pétrea aquilo que um advento inconstitucional assegura. “Só se perde [a conquista] sob lança nas costas ou sob tortura.”

Às armas, cidadãos! Uma jornada mesmo épica. Marchons! Marchons!

Comentário nosso – Você eleitor amigo já pensou por que os deputados e senadores fazem tanta questão do chamado orçamento secreto? E, por acaso,  sabe o que se chama orçamento secreto? Orçamento secreto são as verbas parlamentares que receberam o apelido de emenda pix. Ou seja, dinheiro que é transferido direito  do orçamento da União, ou seja do Tesouro, sem que ninguém saiba quem foi o parlamentar que a destinou, nem o prefeito que o recebeu, nem em que foi que este prefeito o aplicou. Imaginem uma situação que podia acontecer bem perto de nós. Hugo Motta destinava uma verba para seu pai, prefeito de Patos, para ele aplicar do jeito que bem quisesse, e sem que ninguém soubesse de nada. Ou o mesmo Hugo Motta destinasse uma verba para um prefeito que vem votando nele há quase vinte anos. Não quero dizer que ele venha fazendo isso. Estou dando só o exemplo. Até porque se ele estivesse fazendo isso, ninguém ia saber. É por isso que senadores e deputados estão defendendo com unhas e dentes estas maracutaias. E quem garante que uma parte deste dinheiro não termina no bolso deles? E o pior de tudo, eles dizem que estas maracutaias são direito adquirido. Daqui a pouco vão dizer que todas as suas maracutaias são direito adquirido e eles vão “pintar e abordar”. Daqui a pouco, Bolsonaro vai alegar que tudo o que fez de errado foi direito adquirido. Mulher bota chifre em marido e alega que é direito adquirido. Pediatra passa anos estuprando as menininhas e alegando que é adquirido. Velhaco enganando todo mundo e dizendo que é direito adquirido. Traficante tentando se livrar da cadeia, alegando direito adquirido. E assim infinitamente para a frente. (LGLM)

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Category: Destaques

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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