No caminho certo contra o crime (confira comentário nosso)

By | 11/08/2024 10:13 am
Imagem ex-librisPassadas décadas de abandono da Cracolândia pelo poder público, as autoridades parecem finalmente ter decidido avançar sobre a estrutura do crime organizado no centro de São Paulo. Com o uso de mais inteligência e menos voluntarismo, uma megaoperação liderada pelo Ministério Público de São Paulo e pela Secretaria da Segurança Pública desnudou o ecossistema das atividades ilícitas do Primeiro Comando da Capital (PCC) na região, que, agora, inclui até milícia formada por agentes da Guarda Civil Metropolitana e policiais. A escolha por ações que atacam as causas, e não as consequências, desse problema que envergonha e revolta os paulistanos começa a apresentar seus possíveis primeiros resultados contra os criminosos.

A Operação Salus et Dignitas (saúde e dignidade, em latim) levou às ruas um grande contingente de policiais, mas não sem antes realizar um profundo trabalho de investigação. Pela primeira vez, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), sob a chefia do promotor Lincoln Gakiya, entrou no enfrentamento da facção na Cracolândia e, acertadamente, tirou o foco dos usuários de drogas e privilegiou a cooperação entre instituições de Estado. Este talvez seja o maior diferencial entre a ação deflagrada há poucos dias e operações passadas, quase todas orientadas por tentativa e erro.

O chamado “fluxo” da Cracolândia, que perambula pelo centro, é apenas a face mais visível de uma teia criminosa. Ao sufocar as atividades econômicas ilícitas que mantêm aberta aquela chaga no coração de São Paulo, as autoridades, enfim, parecem trilhar o caminho certo no combate ao crime organizado. Houve intercâmbio de informações que envolveu os Ministérios Públicos Estadual, Federal e do Trabalho, a Secretaria da Segurança, as Receitas Federal e Estadual, o Ministério do Trabalho e Emprego e até a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que ajudou a detectar os equipamentos usados pelos bandidos para interceptar a comunicação da polícia.

O ecossistema do crime inclui tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, corrupção, comércio ilegal de produtos ilícitos, comércio de armas, exploração sexual, servidão – com exploração até de trabalho infantil –, imigração ilegal e crimes ambientais. Ao fim, a ação com 1,3 mil agentes das Polícias Militar, Civil, Rodoviária Federal e Federal, em mais uma prova do êxito do esforço conjunto, prendeu três integrantes do PCC e três milicianos.

Tantos crimes perturbam, mas não surpreendem. Como escreveram os promotores, “um local sem a presença do Estado se torna condescendente” com práticas ilícitas. E foi justamente desse tipo de ausência, seguida de negação, que o PCC nasceu no sistema carcerário na década de 1990 e, depois, ganhou as ruas, para formar uma poderosa organização financeira e bélica que pratica crimes mundo afora. Agora, a inépcia do Estado permitiu que oportunistas fardados passassem a se organizar como máfia. Um grupo com mais de 20 guardas-civis, 3 policiais militares e 1 investigador extorquiu mais de R$ 4 milhões de comerciantes em troca de “proteção” na Cracolândia.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, reconheceu que, quando há “um problema generalizado, de algum tempo”, é possível haver “situações de corrupção, de prevaricação e de falha no exercício do poder de polícia”. Já o prefeito Ricardo Nunes, que defende uma Guarda Civil forte como um dos motes da campanha à reeleição, correu a dizer que “desconhece milícia” na cidade. De fato, até agora não havia notícia de milícias como as do Rio de Janeiro, mas, como mostra a história, não parece prudente minimizar os riscos.

Ao revelar o ecossistema do crime, a Operação Salus et Dignitas evidenciou que o Estado precisa retomar o território da Cracolândia. E o caminho para isso é a manutenção de ações coordenadas de autoridades de todas as esferas de poder, com investigações que envolvem inteligência e colaboração. Como sugere o nome da força-tarefa, São Paulo demanda saúde e dignidade, além de segurança. Essa força-tarefa dá a esperança de que algo já tenha mudado.

Comentário nosso – A descoberta desta milícia na Cracolândia paulista, me sugeriu uma ideia.  Que pode ser aplicada pelo Brasil afora, principalmente no combate ao tráfico de drogas. Que tal  Ministério Público, Polícia Federal e Polícia Rodoviária fazerem um trabalho de investigação para descobrir, por que todo mundo sabe onde existem as “bocas de fumo” e só as Polícias Civis, Guardas Municipais e Polícias Militares não sabem e, só eventualmente, descobrem uma? Qualquer um que não tenha cara de policial, pode chegar em qualquer rua e perguntar onde tem uma “boca” e logo vai aparecer quem lhe diga. Qualquer policial que tenha um parente em determinada rua vai saber onde ficam as “bocas”. Por que é que é tão dificil para as polícias descobrirem? E não adianta ligarem para os telefones da polícia e informarem. Eles nunca vão lá. Experiência própria! (LGLM)

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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