Transparência é obrigação, não afronta (confira comentário nosso)

By | 17/08/2024 5:41 am

Congresso quer retaliar STF e governo por decisão que impõe transparência às emendas, em vez de responder quem enviou o dinheiro, como o recurso será gasto e para onde ele vai

 

Imagem ex-librisO Supremo Tribunal Federal (STF) manteve, por unanimidade, a decisão do ministro Flávio Dino, que suspendeu a execução de todas as emendas parlamentares impositivas até a adoção de medidas que garantam transparência e rastreabilidade aos recursos. Ontem, todos os 11 ministros manifestaram apoio à posição do relator, e confirmaram a liminar concedida dois dias antes em uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) de autoria do PSOL.

O Congresso esperneou e promete retaliar o Supremo e o governo, que, para parlamentares, estariam atuando de maneira combinada. A Comissão Mista de Orçamento já rejeitou uma medida provisória que garante um crédito extraordinário de R$ 1,3 bilhão ao Judiciário, e a Câmara promete convocar ministros para explicar os gastos de suas pastas. O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), enviou duas Propostas de Emenda à Constituição (PECs) à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para limitar o poder da Corte.

De fato, a manutenção da decisão pelo STF facilita bastante a vida do Ministério da Fazenda, que ganharia uma margem de manobra de R$ 15 bilhões no Orçamento para cumprir a desafiadora meta fiscal deste ano. Desde a campanha eleitoral, Lula da Silva não esconde o incômodo com o tema e, nesta semana, disse que a promulgação do caráter impositivo das emendas pelo Legislativo, em março de 2015, foi o “começo de uma loucura”.

Esse contexto, no entanto, nem de longe invalida os argumentos que balizaram a decisão do STF. Como já dissemos muitas vezes neste espaço, não há justificativa para manter a opacidade nas transferências de recursos públicos, uma clara violação aos princípios constitucionais da administração pública. É dever do STF restabelecer a ordem constitucional.

O Congresso até tentou derrubar a decisão antes que ela fosse a plenário, mas o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, rejeitou o pedido. A petição, assinada pelas Mesas Diretoras da Câmara e do Senado e pelos partidos PL, União Brasil, PP, PSD, Republicanos, PSB, PSDB, PDT, Solidariedade e MDB, beira o inacreditável.

“Numa única decisão monocrática, o Supremo Tribunal Federal desconstituiu quatro emendas constitucionais, em vigor há quase dez anos, e aprovadas por três legislaturas distintas”, afirma a peça. Ora, nem o tempo de vigência dessas emendas nem o fato de terem obtido maioria qualificada em diferentes legislaturas seriam razão suficiente para mantê-las.

Sobre as emendas Pix, que transferem recursos sem destinação específica diretamente para o caixa de Estados e municípios, o Congresso insiste que há mecanismos para garantir fiscalização, transparência e controle social dos recursos. “Eventuais falhas na operacionalização das rotinas de execução orçamentária”, diz a petição, devem ser resolvidas pelo próprio Legislativo, e não pelo Executivo ou pelo Judiciário.

O Congresso não pode se dizer surpreso com a decisão de Dino nem com o fato de ela ter sido referendada por unanimidade pelo Supremo. Se nem mesmo uma decisão anterior do STF sobre as emendas de relator foi suficiente para que o Legislativo proporcionasse transparência às indicações de maneira definitiva, não será por vontade própria que isso ocorrerá. Cobrados a identificar a autoria das emendas de comissão, Câmara e Senado tiveram a audácia de responder que não tinham como colaborar.

Não há que falar em afronta aos Poderes. A decisão do STF não proíbe a existência das emendas parlamentares nem questiona o caráter impositivo dessas indicações ou o espaço que elas passaram a ocupar no Orçamento, mas apenas cobra o restabelecimento de princípios constitucionais na transferência de recursos públicos.

Como disse Dino em seu voto, orçamento impositivo não é o mesmo que orçamento arbitrário. Se o Congresso, em parceria com o governo, criar um sistema que centralize os dados de todas as emendas parlamentares e que consiga demonstrar para onde vai o dinheiro, como ele será gasto e quem enviou os recursos, o pagamento será liberado. Não parece ser algo tão difícil de fazer.

Comentário nosso – A palavra política significa a arte de governar. A arte de conduzir a “polis”, a cidade. Mas ao longo da história, a politica virou um negócio, um meio de vida. E assim muitos empresários, profissionais liberais e outros entraram neste novo negócio, onde só pensam em enricar. Hoje temos advogados que não advogam mais ou nunca advogaram. Médicos como Damião Feliciano, cardiologista conceituado, que deixaram a profissão, ou como Hugo Motta que nunca assinaram uma receita.  Tornaram-se políticos que é uma atividade muito mais rendosa. Isso você vai ver em qualquer Estado desse imenso pais. Centenas de profissionais de outras atividades que estão ricos com este novo  “meio-de-vida”. Tudo o que fazem é para ganhar mais dinheiro. Ninguém está preocupado com a melhora da condição de vida do povão, mas tudo que, aparentemente fazem em favor do povo, é visando os votos que vão obter e as vantagens de que vão usufruir. Afinal, por que um cidadão gasta milhões para se eleger? Por que simplesmente vale a pena o investimento, como em qualquer negócio. Por isso eles defendem com armas e dentes estas emendas parlamentares. Por que através delas obtém grande parte do lucro que a política lhes proporciona. Diante da suspensão das emendas imposta pelo Supremo Tribunal Federal, exigindo que se cumpra a Constituição Federal de transparência no uso do dinheiro público, ao invés de atenderem o que manda a lei, proporcionando que se saiba quem mandou o dinheiro para os municípios e como este dinheiro está sendo aplicado, eles simplesmente querem que continue como está, transferindo o dinheiro sem nenhuma transparência. Por que? Porque tem safadeza por trás da transferência deste dinheiro. Tem negociatas que eles fazem em troco de votos e de propinas e de comissões. É com estas verbas que ficam cada vez mais ricos, os parlamentares que mandam as verbas e os prefeitos que as recebem. Afinal, quantos políticos, do simples vereador ao presidente da República, você conhece que seja pobre. Quem não é podre de rico, está pelo menos remediado. Os que permanecem pobres já não são mais políticos. (LGLM)

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Category: Destaques

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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