O risco do PCC para a democracia (confira comentário nosso)

By | 19/08/2024 6:28 pm
Imagem ex-librisDecerto insatisfeito com o imenso poderio financeiro alcançado após décadas de bandidagem, o Primeiro Comando da Capital (PCC), ao que tudo indica, agora está disposto a contaminar a política, em um incipiente projeto de subversão da democracia. Investigações que revelaram as entranhas dessa organização, pelas quais criminosos empreendem negócios de fachada para lavar dinheiro do tráfico de drogas, têm apontado também a busca pelo poder em instituições de Estado.

Essa estratégia, segundo reportagem publicada pelo Estadão, tem ganhado tração desde as eleições passadas. A atuação da facção passa pelo financiamento de campanhas de aliados, contaminação da máquina pública, captura de contratos públicos, ameaças a políticos e até mesmo a tentativa de lançar representantes próprios para disputar pleitos.

O primeiro alerta dessas investidas surgiu após um líder do PCC ter tido, em 2016, a ideia de irrigar com dinheiro sujo do crime uma candidatura a prefeito de Arujá, na Grande São Paulo. A negociação se deu com o candidato a vice e, depois de eleita a chapa, a facção se apoderou da coleta de lixo da cidade e da Secretaria Municipal da Saúde, transformada em cabide de emprego de apaniguados dos delinquentes.

De lá para cá, esse tipo de negócio entrou na mira de investigadores também na capital paulista. Há um tempo, duas empresas do setor de transporte estão sob suspeita de que seus capitais sociais teriam dinheiro do PCC. Mesmo assim, a UPBus e a Transwolff, que hoje estão sob intervenção, receberam recursos milionários da Prefeitura de São Paulo. Neste ano, a Operação Fim de Linha expôs essa complexa rede de cooptação, prendeu um empresário ligado à facção e já virou, de modo rasteiro, um tema de pré-campanha.

Além da capacidade de comprar candidatos, de aparelhar a máquina pública com seus prepostos e de assinar contratos públicos com laranjas, o PCC há muito tempo restringe a liberdade de voto dos cidadãos em algumas regiões do Estado por meio da intimidação.

Há quatro anos, integrantes da facção disseminaram seu costumeiro terror nas eleições municipais de Campinas, Santos e Praia Grande. Pela força das armas, candidatos do PSDB foram simplesmente impedidos de fazer campanha em comunidades dominadas pelo crime organizado e tiveram de recorrer a escolta para apresentar seus planos aos eleitores.

Neste ano, o PCC pretendia dar um passo além. A organização queria chegar às urnas. Como mostrou a Operação Decurio, da Polícia Civil de São Paulo, a facção preparava a apresentação de candidaturas a vereador em Mogi das Cruzes e em Santo André.

Em Mogi, a mulher de um dos maiores responsáveis por lavar dinheiro do PCC participaria da disputa pelo União Brasil. Já no município do ABC paulista, o dono de uma empresa que também lavava dinheiro para a facção buscaria uma vaga na Câmara pelo PSD. Ambas as candidaturas foram barradas graças à operação da polícia, que, além disso, bloqueou R$ 8,1 bilhões por suspeita de esquema de lavagem de dinheiro.

Vale lembrar, ainda, que a recente Operação Salus et Dignitas (saúde e dignidade, em latim), na Cracolândia, resultou na prisão de uma ex-candidata a vereador pelo PT. Ela era responsável por monitorar ilegalmente por rádio a comunicação da polícia na região da Favela do Moinho, apontada como o QG do PCC na Cracolândia. Já o PRTB, partido que lançou Pablo Marçal à Prefeitura, chegou a ser comandado por um indiciado por suposta associação criminosa para o tráfico e de ter ligações com a facção.

Isso tudo indica que o poder financeiro parece dar impulso ao bando para se aventurar na política, corromper agentes públicos, drenar dinheiro do contribuinte por meio de contratos viciados e infiltrar-se em agremiações políticas. Aliás, os partidos precisam aprimorar seus mecanismos de controle para identificar e afastar bandidos ou agregados do crime organizado que degeneram suas fileiras.

Numa democracia, não há espaço para o medo nem se tolera a interdição do debate de ideias. É ousada a marcha do PCC rumo ao poder político, e esse fenômeno deve ser contido desde já, antes que cresça e se alastre. O perigo não pode ser ignorado.

– A disputa agora vai esquentar. Onde será que estão os campeões? Vai dar até para fazer apostas nos BETs. Onde é que tem mais ladrão, no Congresso ou no PCC? Vários políticos já foram pilhados, participando de partidos politicos. Lá eles seriam professores ou alunos? Bandido de carteirinha na política não é novidade. Além dos de colarinho branco. Qual é cidade de médio ou grande porte que não tem traficante ou amigo de traficante nas Câmaras de Vereadores. Conheço cidade que já chegou a ter 20% dos seus vereadores, ligados ao tráfico. Tem bairro onde o eleitorado “fecha” com determinado candidato, se não quiser se dar mal. Claro que eu não sou doido para dar nomes aos bois. Mas quase todo mundo sabe. E que ninguém se engane. Nâo tem municipio por pequeno que seja quen não tenha seu traficante. E tem deles onde tem até briga por território. O PCC e o Comando Vermelho podem não ter chegado a todos os municípios, mas já têm os seus precursores em todos eles, com algumas pequenas facções. Patos tem pelo menos duas facções disputando espaço e a maioria dos homicídios da cidade está ligada ao tráfico.  E todo mundo sabe disso. No bairro onde predomina uma destas facções haverá certamente, pelo menos um candidato ligado a eles.  E muita gente procura a imprensa para dar pistas, mas “o diabo é quem vai entrar nessa”, divulgando nomes. Pode não terminar de criar os filhos e netos. Infelizmente a gente não pode confiar, nem na polícia como um todo, nem em certos setores da Justiça. Sigilo absoluto é um mito! Houve um tempo, há trinta ou quarenta anos atrás, que tinha pessoas a quem se podia passar uma informação, sob sigilo. Hoje, Deus me livre. Ainda tem gente boa na policia, mas hoje, depois do celular, além das paredes, muita gente tem ouvidos. Já próximo dos oitenta, posso cair de moto, mas não caio mais em esparrela.  (LGLM)

 

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Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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