A história do Brasil está marcada por períodos de dominação e concentração de poder, onde pequenos grupos ou famílias influentes exerciam controle quase absoluto sobre vastos territórios. Esse cenário remonta às Capitanias Hereditárias, implantadas no início da colonização portuguesa, que dividiram o país em grandes lotes de terras, entregues a nobres e militares em caráter vitalício e hereditário. Esse sistema, embora tivesse o objetivo de acelerar o desenvolvimento do território, perpetuou a concentração de poder e riqueza nas mãos de poucas famílias, moldando a estrutura social e política que, de muitas formas, ainda persiste.
As Capitanias Hereditárias, como sabemos, foram um sistema onde a Coroa Portuguesa delegou a administração de grandes áreas do território brasileiro a donatários, que passaram a ter controle total sobre esses espaços, incluindo o direito de explorar os recursos naturais e a população local. O poder desses donatários se estendia por gerações, perpetuando o controle sobre o território e seus habitantes, criando uma elite que ditava as regras e os destinos das pessoas que viviam sob seu domínio.
Hoje, séculos depois, podemos traçar paralelos entre aquele sistema colonial e a realidade política de muitas cidades brasileiras, onde o poder parece ter sido capturado por uma única família ou grupo ao longo de gerações. Em muitas dessas localidades, um sobrenome torna-se sinônimo de poder, e a administração pública é transmitida quase como uma herança, de pai para filho, irmão para irmão, ou primo para primo. Essa situação cria uma verdadeira “capitania hereditária” moderna, onde o poder é exercido de forma concentrada, muitas vezes em detrimento da democracia e do bem-estar da população.
O domínio político de uma família sobre uma cidade pode ter consequências profundas. A falta de alternância no poder limita a renovação de ideias e práticas, promove o clientelismo, a corrupção e o uso da máquina pública para fins privados. A população, muitas vezes, é mantida em uma situação de dependência, onde favores e benefícios são distribuídos em troca de apoio político, perpetuando um ciclo vicioso que impede o desenvolvimento econômico, social e cultural.
Assim como as Capitanias Hereditárias limitaram o potencial de desenvolvimento do Brasil colonial, o domínio político de uma única família sobre uma cidade sufoca as possibilidades de progresso. Esse tipo de controle não favorece a inovação, a inclusão ou a justiça social; pelo contrário, aprofunda as desigualdades e mantém as estruturas de poder estagnadas.
Mas, assim como a história do Brasil é marcada por momentos de resistência e luta pela liberdade, o presente nos chama a uma nova batalha: a libertação política de nossas cidades. É preciso que os cidadãos se conscientizem do poder que têm em suas mãos através do voto. A democracia é um instrumento poderoso de mudança, capaz de romper com ciclos de dominação e inaugurar novas eras de prosperidade e justiça.
O apelo, portanto, é para que cada eleitor tome consciência da importância de seu voto. Não se trata apenas de escolher um nome na urna, mas de decidir o futuro de sua cidade e das próximas gerações. A alternância de poder é essencial para a saúde democrática, para que novas ideias e lideranças possam emergir, trazendo consigo a esperança de um governo mais justo, transparente e comprometido com o bem comum.
É hora de romper com as “capitanias hereditárias” modernas, de exigir transparência, ética e renovação na política local. A liberdade política é um direito de todos, e só através da participação ativa e consciente podemos garantir que nossas cidades sejam governadas por líderes que realmente representem os interesses da população e não de um pequeno grupo privilegiado.
Portanto, ao nos aproximarmos de novas eleições, que este seja um momento de reflexão e ação. Que cada eleitor se lembre do poder transformador que possui e faça valer sua voz, votando por mudança, por liberdade e por um futuro melhor para todos.