O governo só pensa naquilo (confira comentário nosso)

By | 03/09/2024 12:37 pm
Imagem ex-librisO poeta grego Arquíloco escreveu no século 7.º antes de Cristo que “a raposa sabe muitas coisas, mas o ouriço sabe uma única grande coisa”. Atualizando o aforismo, o governo de Lula da Silva é como o ouriço: só consegue enxergar as contas públicas pela lente da arrecadação, jamais pelo corte efetivo e estrutural de gastos. Assim, fiel à sua natureza de ouriço, o Executivo manterá a aposta nas receitas para salvar a meta fiscal de 2025. No mesmo dia em que enviou a proposta de Orçamento ao Congresso, o Executivo protocolou também um projeto de lei para elevar a tributação dos Juros sobre Capital Próprio (JCP) e as alíquotas da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) – em 1 ponto porcentual (p.p.) para todos os setores e em 2 p.p. para o setor financeiro.

O projeto, segundo o ministro Fernando Haddad, servirá como uma espécie de garantia a ser acionada caso as propostas aprovadas pelo Senado para compensar a desoneração da folha de pagamento de setores econômicos e dos municípios não sejam suficientes para cobrir a renúncia. Se forem, “tanto melhor para nós”, disse o ministro.

Não é a primeira vez que o governo tenta aumentar a arrecadação desses tributos para arcar com a desoneração. No caso da CSLL, ela foi prontamente rechaçada pelo Senado assim que apresentada pelo Ministério da Fazenda, enquanto a elevação da alíquota de Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) dos Juros sobre Capital Próprio das empresas, de 15% para 20%, foi retirada do parecer da desoneração quando ficou claro que ela seria rejeitada.

Como se ainda restasse alguma dúvida sobre a resistência do Congresso a essas medidas, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), fez questão de expor sua contrariedade à proposta em um evento de que participou no fim de semana. Segundo ele, aprová-la é quase impossível.

Mais uma vez, o pretexto do governo para justificar o envio da medida é a desoneração, embora o problema do desequilíbrio do Orçamento seja estrutural, ou seja, bem mais profundo e antigo. Tanto é verdade que especialistas em contas públicas voltaram a manifestar preocupação sobre o risco da estratégia do governo de contar com receitas incertas para cumprir a meta fiscal. A diretora da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado, Vilma Pinto, disse que a proposta do Orçamento “não está muito realista”.

Com previsões mais otimistas que as do mercado para o crescimento do PIB e para a inflação, o governo consegue projetar receitas maiores e despesas menores no papel. Qualquer mudança nesse cenário gera a necessidade de bloqueios e contingenciamento de gastos para não ultrapassar o limite de despesas e cumprir a meta fiscal, o que impõe dificuldades na execução do Orçamento.

De fato, fica difícil acreditar em um projeto que estima arrecadar R$ 166,2 bilhões em receitas extras no ano que vem, das quais R$ 46,8 bilhões dependem da aprovação do Congresso para entrar em vigor, enquanto prevê um corte de despesas bem menor, da ordem de R$ 25,9 bilhões, boa parte por meio da revisão do cadastro de benefícios sociais e assistenciais.

Mantém-se uma confiança digna de fé nos efeitos da retomada do voto de qualidade no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). Para 2025, espera-se arrecadar R$ 28,5 bilhões, bem menos que os R$ 54 bilhões esperados para este ano, mas muito acima dos ínfimos R$ 87 milhões efetivamente gerados pela medida até julho.

São questões amplas, para as quais o governo não tem resposta e que vão muito além da desoneração da folha de pagamento, transformada em bode expiatório a obrigar o Executivo a aumentar a carga tributária para evitar o descumprimento da meta fiscal.

Seria o momento de o governo começar a pensar no acionamento dos gatilhos do arcabouço fiscal que ele mesmo elaborou e se propôs a seguir, especialmente o veto à criação de novas despesas obrigatórias. Mas parece ser melhor investir em um misto de teimosia, otimismo e enfrentamento para entregar o déficit zero em vez de reconhecer e lidar com a dura realidade. Quem não acredita não pode ser acusado de estar torcendo contra.

Governo que só pensa em aumentar os impostos  sem diminuir as despesas, pode sofrer o que sofreu o dono de um cavalo que puxava uma carroça e que aumentava a carga pensando em ganhar mais dinheiro. O cavalo morreu e ele teve que puxar a carroça. Qualquer dona de casa sabe disso. Se o dinheiro está curto a primeira providência é diminuir as despesas enquanto procura descobrir como ela ou o marido ganhar mais dinheiro. Se não as contas vão aumentando e ele termina quebrando. Cobrando mais impostos o Governo pode quebrar os empresários ou estimulá-los a sonegar.  O governo Lula teme cortar despesas com medo de perder votos dos prejudicados pelo “arrocho” administrativo.  Mas a quebra de empresas também vai fazê-lo perder votos pelo desemprego que pode provocar. (LGLM)

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Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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