(Misael Nóbrega de Sousa, jornalista, professor universitário e futuro vereador)
O ex-guerrilheiro Jose ‘Pepe’ Mujica, à época em que foi chefe de Estado de um dos países mais pobres do continente, doava 90% do seu salário e levava uma vida de pouco luxo. “Este dinheiro me basta, e tem que bastar porque há outros uruguaios que vivem com bem menos”. Além da casa, seu único patrimônio era um velho Volkswagen, cor celeste.
Em 2019, a nossa imprensa provinciana veiculou a matéria: “Os marajás da miséria”, que dizia que prefeitos paraibanos recebiam até R$ 288 mil reais, por ano. E assim como se joga “merda no ventilador”, a notícia gerou absurdos compartilhamentos. O gestor mais bem pago da Paraíba era de um lugarzinho com cerca de 20 mil habitantes, onde apenas 5% da população trabalhava.
Chico Mendes (PSB), prefeito de São José de Piranhas, recebia, todo mês, a bagatela de R$ 24 mil reais. E, pasmem, a cidade vivia em “estado de emergência” devido à estiagem. Dos 223 municípios paraibanos, o menor salário ficou para Ailton Gomes Medeiros (PTB), de Nova Palmeira, R$ 7. 474,95.
É comum políticos declararem bens à justiça eleitoral em desacordo com o seu patrimônio. E nem é preciso usar a tabuada para notar que os salários que recebem mensalmente não justificam as cifras milionárias, acumuladas quase sempre de seus mandatos.
“A política não é corrupta, os políticos são”.
Não podemos nos omitir, nem nos julgar menores; tampouco descer ao nível dos homens maus. O tempo da indignação é agora. Não se trata de quanto ganha um prefeito, mas de estimar o seu valor.