Só isso pode explicar o fato de repousar em alguma gaveta do Ministério da Fazenda, desde o segundo semestre do ano passado, uma proposta de força-tarefa para prevenir e tratar o vício em jogos de azar. A reportagem do Estadão teve acesso a uma minuta de decreto e a uma nota técnica que defendiam a instituição de um grupo de trabalho com representantes da Fazenda, da Saúde, do Esporte e da Advocacia-Geral da União (AGU).
A exposição de motivos do decreto, assinada pelo ministro Fernando Haddad, destacava a necessidade de se “endereçar, com urgência e vigor, a influência deletéria que a exploração do mercado de apostas esportivas pode ter sobre os apostadores”. Se havia urgência, parece ter sido dissipada diante da sanha arrecadatória em um mercado que, segundo projeções da Strategy& Brasil, consultoria da PwC, já movimenta R$ 100 bilhões por ano.
Ao que tudo indica, saúde não é uma prioridade. Do contrário, os diagnósticos da nota técnica jamais teriam sido ignorados. Segundo o texto, os jogadores patológicos “podem gastar grandes quantias de dinheiro e tempo” e recorrer a “medidas desesperadas, como roubar ou vender bens”. Ademais, afirma a nota, o vício em jogos “absorve progressivamente as energias psíquicas e físicas do jogador até destruir tudo o que lhe é mais importante”, ameaçando seu patrimônio e, sobretudo, sua harmonia familiar.
O grupo interministerial, segundo os documentos, teria de se reunir quinzenalmente para elaborar uma política de jogo responsável, com campanhas educativas e imposição de exigências às bets. Mas essas recomendações parecem não importar para o governo, que já sabia havia bastante tempo de todos os perigos e nada fez para contê-los.
Enquanto isso, psiquiatras veem cada vez mais pacientes chegarem aos seus consultórios e questionam a capacidade do Sistema Único de Saúde (SUS) de responder à demanda por tratamento. Especialistas em finanças, por sua vez, avisam reiteradamente que apostas, cuja perda de dinheiro é certeira, não são investimento. Apesar de tantos alertas, as bets seguem onipresentes em intervalos comerciais na TV, publicidade em redes sociais e patrocínio de clubes de futebol. O Congresso começa acertadamente a debater, mesmo que com atraso, propostas para equipará-las ao álcool e ao cigarro e, assim, restringir a publicidade.
De posse de informações preciosas, o governo Lula da Silva optou por deliberadamente ignorar os riscos dessa “influência deletéria”, como diz a exposição de motivos do decreto abandonado. Ninguém poderá alegar surpresa com a potencial explosão do vício ou o surgimento de famílias dilaceradas. Não terá sido por falta de aviso.
Comentário nosso – O problema é sério. Há cada vez mais gente viciada nestes jogos e assim como o vício nas drogas é capaz de fazer qualquer coisa para manter o vício. Gente que rouba, que se endivida, que gasta tudo quanto ganha para manter o novo vício. Tenho um parente que tudo quanto ganha é para gastar com estes jogos. Ainda bem que é solteiro e só preocupa os pais. Temos até um caso recente da Paraíba de uma mãe que tentou envenenar duas filhas e se suicidar e a polícia desconfia de que ela fez tudo isso porque estava devendo até “os cabelos da cabeça”, por conta do vicio dos jogos online. Mas o Governo Lula não se preocupa com resolver os problemas sérios. Só pensa em arrecadar, e estes jogos já rendem bilhões de reais em impostos, e na politicagem. (LGLM)