Não foi por falta de aviso

By | 16/09/2024 7:20 am
Imagem ex-librisSe havia alguma dúvida sobre a letargia e a negligência do presidente Lula da Silva na administração da imensa crise ambiental do País, não há mais. Desde o início deste ano, o governo recebe alertas sobre os riscos da seca e das queimadas. Com essa leniência do Executivo, o Brasil assistiu ao avanço das chamas sobre o Pantanal, a Amazônia e o Cerrado, à destruição de lavouras em Estados como São Paulo e à dispersão da fumaça por pequenas e grandes cidades, com danos à saúde da população.

Documentos reunidos pelo Estadão mostram que ofícios, notas técnicas, atas de reuniões e processos judiciais já antecipavam os efeitos da estiagem e do fogo. O material ilustra bem, para dizer o mínimo, o descaso do governo. E o intolerável de tudo isso é saber que tantas perdas eram evitáveis ou poderiam ter sido minimizadas.

O cenário de catástrofe começou a ser desenhado no primeiro semestre. Especialistas já afirmavam que a seca antes da hora implicaria um quadro alarmante na reta final do ano, ainda mais devastador do que aquele registrado no governo de Jair Bolsonaro, aquele sobre quem recai a justa pecha de negacionista do clima e de inimigo da preservação.

Como mostrou o Estadão, o Ministério do Meio Ambiente publica desde fevereiro portarias com declaração de emergência ambiental e risco de incêndios em várias regiões do País. Além disso, enquanto a maior planície alagada do planeta era consumida pelo fogo, a ministra Marina Silva enviou, em junho, um ofício a Lula citando “emergência climática com alto risco de incêndios no Pantanal e na Amazônia”. Se a ministra esperava uma ação contundente do chefe, fracassou na empreitada.

O governo Lula recebeu, ainda, um pedido de socorro do governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil). Em ofício, o chefe do Executivo estadual solicitou ajuda para reduzir ou mesmo evitar os impactos causados por um “possível desastre”.

Já em ações judiciais, os avisos partiram de Ministérios Públicos, comunidades indígenas e organizações ambientais e aparentemente também foram ignorados. Relatório do Observatório do Clima, anexado a uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF), alertou que, no Pantanal, “a ausência de medidas rápidas, eficazes e contundentes contra o fogo levará à ruína o bioma”. O documento previu, ainda, seca “extremamente forte”, em agosto e setembro.

Especialistas ouvidos pelo Estadão expressaram inconformismo diante de tanta letargia do governo Lula da Silva. Trata-se de um sentimento bastante compreensível.

Como afirmou Pamela Gopi, estrategista da Frente de Justiça Climática do Greenpeace, “não dá para dizer que a situação não era esperada”, haja vista que “o governo tinha todos os indícios e informações para ter ações de mitigação e adaptação para este momento”. E, segundo o advogado Nauê Azevedo, especialista em litigância estratégica do Observatório do Clima, “vivemos um cenário de anomalia climática que já vinha sendo avisado havia muito tempo”.

O governo Lula diz que agiu, sim, mas não restam dúvidas de que faltou ao Executivo federal a antecipação de medidas, com mais rapidez e energia, promovendo ações firmes na prevenção e no combate às queimadas – criminosas ou não. Não bastam pajelança em anúncios tardios de enfrentamento do fogo nem a terceirização da culpa ao desmonte ambiental do governo anterior, ao El Niño, à La Niña, ao Congresso ou ao crime organizado.

O Brasil precisa de ações permanentes, e não apenas reativas, que sempre são adotadas pelo governo lulopetista apenas quando sob pressão. Um bom começo é colocar todas as estratégias de adaptação às mudanças climáticas dentro do Orçamento, sem malabarismos fiscais, para que a sociedade tenha previsibilidade dos efeitos dessa nova realidade e possa acompanhar o uso do dinheiro público no que é prioritário.

E nada mais prioritário do que o enfrentamento de eventos climáticos cada vez mais extremos. Que Lula da Silva e as demais autoridades públicas brasileiras passem do palavrório à ação.

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Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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