Avanço de facções reflete excesso de presos (confira comentário nosso)

By | 19/09/2024 2:30 pm

PCC e Comando Vermelho atuam em presídios de 25 estados; urge acabar com encarceramento em massa e desmonetizar grupos

 

(Opinião da Folha, em 18/09/2024)

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Detentos na Penitenciária Industrial, em Joinville (SC) – Avener Prado/Folhapress

Dados do Relatório do Mapa de Orcrim (Organizações Criminosas) de 2024, elaborado pelo Ministério da Justiça, mostram que o poder público brasileiro falha em conter a expansão das facções criminosas.

Só Rio Grande do Sul e Distrito Federal não têm prisões afetadas pela ação das duas maiores facções do país —o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e o Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro. O grupo paulista atua no sistema carcerário de 24 estados (em 2023, eram 23), e o carioca, em 22 (eram 21).

Entre 2022 a 2024, o órgão federal mapeou 88 facções diferentes nas penitenciárias brasileiras. Foram identificadas 58 em 2022, 70 no ano seguinte e, neste ano, 65.

Enquanto ocupa o sétimo lugar em número total de habitantes, o Brasil abriga a terceira maior população carcerária do mundo, com 832.295 detentos, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2023).

O maior propulsor do encarceramento nos últimos anos foi a Lei de Drogas, de 2006. Entre 2005 e 2014, o número de presos por tráfico, condenados ou não, subiu de 14% para 28% do total; entre mulheres, a taxa cresceu oito vezes de 2002 a 2018, para 64%.

Sem critérios objetivos para diferenciar usuários de traficantes, o Judiciário tem posto em prática o punitivismo penal, que, por ora, serviu para alimentar o poder das facções criminosas, sem ganhos correspondentes para a segurança pública.

Só 13% dos processos por tráfico de drogas contam com menção a facção criminosa, conforme pesquisa do Ipea que analisou 41.100 processos dos tribunais de Justiça estaduais com decisão no primeiro semestre de 2019.

Jogar presos sem conexão com o crime organizado em penitenciárias dominadas por esses grupos faz com que um espaço que deveria servir à ressocialização de condenados vire mecanismo reprodutor de violência.

A redução do inchaço do sistema carcerário deve, por certo, ser combinada com outras medidas.

Não há solução mágica para problemas complexos e multifatoriais. O fato inescapável é que uma política que acaba por transformar prisões em setor de recursos humanos para o crime organizado precisa ser revista, dada sua insensatez e ineficácia.

editoriais@grupofolha.com.br

Comentário nosso – O editorial coincide em parte com comentário que fizemos em 12/09/2024, no PAPO DE COLEGUINHA:  “E nós temos um fato mais ou menos recente que leva à reincidência. A existência de facções que, ou sedimentam o instinto criminoso dos criminosos antigos, ou estimulam o instinto amortecido dos novos criminosos. E os participantes destas facções são quase definitivamente irrecuperáveis. Uma providência urgente da legislação deverá ser impedir a convivência de criminosos primários com criminosos pertencentes a facções, sob pena de termos uma quantidade cada vez maior de criminosos irrecuperáveis. Os prímários são facilmente contaminados pelos reincidentes e uma vez soltos passam a ser “soldados” dos chefes que continuam nas penitenciárias. E é assim que as facções estão dominando o país!” (LGLM)

 

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Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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