(Luiz Gonzaga Lima de Morais, jornalista e advogado, publicado no Notícias da Manhã, da Espinharas FM, em 19/09//2024.
Duas das mais legítimas experessões da nossa cultura estão em perigo: o forró de pé de serra e a arte dos cantado, es.
Quando falamos de “forró pé de serra” estamos falando de todos os ritmos de raizes nordestinas como baião, chamego, xote, xaxado, toada e tantos outros dele derivados e que ao longo da história serviram para cantar a vida nordestina, nas suas vitórias, suas derrotas, suas alegrias, suas sofrências, suas conquistas, suas crenças, suas secas, seus invernos, suas colheitas, suas fomes, suas enchentes e suas sedes.
Mesmo quem nunca veio ao Nordeste, aprendeu muito sobre nós, ouvindo as nossas músicas. Cada uma delas conta uma história, alegre ou sofrida, diferente das músicas modernas cujas letras muitas vezes não têm a menor expressão.
A nossa música era divulgada nas rádios, nas televisões, nos festivais e nas nossas festas. Hoje ela perdeu espaço até nos veículos de comunicação da região. Nossas emissoras de rádio e televisão divulgam mais os artistas e músicas de fora do que a nossa. E as festas juninas que divulgavam exclusivamente nossa música e nossos costumes foram invadidas pelas músicas sertanejas e costumes de fora. Hoje os nossos artistas são escanteados a cada ano destas festas que deviam ser antes de tudo dedicadas à nossa cultura.
A nossa outra manifestação cultural que está sendo aos poucos abandonada é a cantoria de viola. Ainda temos muitos e excelentes cantadores, mas os eventos de cantorias estão com público cada vez menor. Alguns ainda batalham para manter viva a cantoria, caso de Jomaci Dantas, o Lola, que ainda promove às custas de muitas andanças e súplicas junto a prefeitos e empresários, festivais na região. Outro batalhador é o cantador Severino Feitosa, que começou aqui na Espínharas, e o hoje mantém um programa na Campina FM, 93.1, de 4 às 6 da manhã, e promove cantorias em toda a região. E os Irmãos Pereira mantém um programa diário aqui na Espinharas, de 16:30 às 17hs, além de outros companheiros de rádio e violeiros que mantém alguns programas em toda a região. Mas, apesar de todos os seus esforços o público continua minguando.
Nós tivemos em Patos, um grande amigo da cultura popular que foi o saudoso prefeito Dinaldo Wanderley. Patrocinou durante os seus dois mandatos, oito festivais de cantadores de viola, que tive a honra de apresentar, todos em praça pública, atraindo grandes públicos, não só de aficcionados da cantoria, mas de estudantes que sentavam nas calçadas para ouvir os mestres da viola. Seus sucessores, de lá para cá, apenas vêm dando pequenas ajudas para realização de alguns eventos.
Foi de Dinaldo também o maior esforço para resgatar o nosso São João, que chegou a ser denominado o melhor do mundo, sempre com a presença em quase sua totalidade de alguns dos melhores artistas da música nordestina. De lá para cá, o nosso São João, se abastardou, desprezando os nossos artistas em favor de sertanejos de cachês milionários, a ponto de o cachê de um deles ser suficiente para pagar todo um São João só de música nordestina. Mas prevalece a ganância da terceirização da festa que gera millhões em ganhos escusos. Isto não só em Patos, como em toda parte.
Torna-se urgente um trabalho para resgate da nossa cultura e as administrações municipais têm um papel essencial nisso. Elas têm que investir em festivais de violeiros e em legítimas festas juninas que resgatem a nossa música legítima e a nossa arte ancestral da cantoria de viola.