O Congresso aprovou a legalização de terreno sobre o qual o crime organizado se expandirá, a ampliação da superfície sobre a qual o crime organizado se lavará
A Fazenda também se encantou, a regulamentação do bicho concebida todinha tendo as possibilidades de arrecadação como norte. Fernando Haddad e seus raspadores de tacho de olhos crescidos para aquelas projeções tremendas — os bilhões que viriam compor para lhe fechar a farsa da meta fiscal.
A gula subestimou a complexidade do mundo real. Que se impõe. E de repente todos preocupados com as consequências dos estímulos ao consumo de apostas sobre a vida das gentes.
O Congresso aprovou o troço empilhando votações simbólicas, apressadamente. Governo e Parlamento ignoraram o impacto do vício sobre a saúde da população e no endividamento das famílias. E agora vem o ministro falar em controle de CPF e “sistema de alerta sobre pessoas que revelarem dependência do jogo” — conceito decerto a ser formulado sob o uso extremado do Direito Xandônico.
Liberaram uma oferta agressiva — e então correm para tipificar potenciais dependentes e lhes tutelar os gastos.
O negócio é outro. Mas talvez tenhamos a nossa Las Vegas — quem sabe várias.
Nessas horas, ante o chamado inapelável do futuro em que nossa vocação turística se expressará, nunca se reflete sobre quem seriam os proprietários dessas Las Vegas — a serem erguidas em solo que não é deserto, tendo o jogo uma história de sangue neste país.
A legalização do jogo acabará com o jogo ilegal? Ou prestará serviços à ilegalidade?
O Congresso aprovou o projeto de legalização das apostas esportivas embutindo no texto o contrabando dos cassinos virtuais — porque é a legalização completa do jogo o que se pretende, afinal. Aprovada essa lei como se inexistisse o mundo real e o jogo — porque é de jogo que se trata — não tivesse dono no Brasil.